Comissão de Organização dos Empregados (COE) cobra explicações do banco e de médico do trabalho sobre fluxo de atendimento a afastados
Além de sofrer com a doença, na maioria das vezes adquirida no serviço, quem está em licença-saúde ainda passa por médico do trabalho que não tem autonomia para atestar se a pessoa tem ou não condições de voltar. Antes de decidir por dar “inapto”, o profissional é orientado a “discutir com o médico coordenador da empresa cliente”, ou seja, com o Santander, algo que causa constrangimento e, sobretudo, dúvidas a respeito de uma análise médica ética e isenta.
A orientação consta em documento da Micelli Soluções em Saúde Empresarial, empresa contratada pelo Santander (e por outras instituições financeiras) para a realização do serviço. O papel é um prontuário clínico preenchido pelo médico da Micelli no momento da avaliação da possibilidade de retorno ao trabalho (veja figura). Depoimentos de trabalhadores também comprovam que a prática é recorrente.
Para cobrar explicações do banco, a Comissão de Organização dos Empregados (COE), que representa trabalhadores do Santander de todo o país, reuniu-se com representante do RH e o médico coordenador do PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional), Gustavo Locatelli, do Santander, na quinta 23, em São Paulo.
Nova reunião de grupo de trabalho formado com objetivo de acompanhar a questão será marcada para a segunda semana de novembro.
Depoimentos
Representantes dos trabalhadores colocaram áudios com depoimentos de bancários que passaram pela situação.
Outros casos foram citados como do trabalhador de São Paulo que relata em e-mail dirigido ao Santander não conseguir “parar de chorar”. Afastado por adoecimento psicológico, foi considerado “apto” após a própria médica informar que ele não tinha condições de voltar ao trabalho: “E efetuou uma declaração com recomendações do Santander e também um laudo que me fizeram assinar antes de preencher. E se negou a me dar uma cópia”, conta.
O bancário já tinha sido vítima de assalto no banco. “Quando me sequestraram, quase morri para preservar a agência, pessoas e numerários. Não disse nada e aguentei tortura durante horas, com cortes no corpo, dentes quebrados, maxilar fraturado, diversos hematomas, tempo todo ameaçado com arma de fogo e banho de gasolina. Isso até hoje me deixa cicatrizes, acabou meu casamento, minha vida pessoal, financeira e familiar está um lixo. Me sinto à beira do abismo, tenho pesadelos, relembrando os momentos quase todas as noites”, relata.
Pouco mais de uma semana depois, o trabalhador faleceu devido a uma colisão de sua moto com a traseira de um caminhão.
Fonte: Afubesp