Lúcio Maia veio ao mundo musical como capitão da infantaria mangue beat de Chico Science. A guitarra pesada de Maia, unida à percussão igualmente impactante da Nação Zumbi, definiu esteticamente o “som do mangue” recifense.
Agora, neste segundo álbum do projeto Maquinado, Maia mostra sua visão particular do namoro entre dub, rock e música brasileira que forma a base de seu som e da música da Nação.
O resultado é bom. Com criatividade e sem demasiada pretensão, o guitarrista, aqui também produtor, apresenta um trabalho independente coeso, atual, com composições suas e uma versão para “Benguela”, de Jorge Ben Jor, música que já foi bem trabalhada também pelo Cidade Negra em tempos do vocalista Ras Bernardo. Há também uma releitura de “Super Homem Plus”, de Fred 04, outro protagonista do movimento dos caranguejos nos anos 90.
O trabalho não procura revelar nenhuma “faceta desconhecida”, ou mesmo a “verdadeira música” de Lúcio. Pelo contrário, “Mundialmente Anônimo” demonstra a forte conexão do guitarrista como o ambiente cultural de Recife, bem como a contribuição de toda a geração mangue para tornar a música e a arte da capital pernambucana voltada não só para todo o Brasil, mas para o mundo. Vale citar a homenagem a São Paulo, barulhenta, em “SP”, para não dizer que tudo são rios, pontes e overdrives.
Por vezes a voz de Maia evoca o colega falecido, com a cadência conhecida, meio rapper, com sotaque pernambucano, às vezes atonal, que Chico Science tornou marca registrada ao cantar. Na faixa “Tropeços Tropicais”, porém, a mesma fórmula não parece funcionar com o vocal da co-autora da canção, Lurdez da Luz.
Quando o disco parece se encaminhar à mesmice, “Pode Dormir” traz um pouco de poesia e romantismo ao ouvinte, desviando o foco do peso e psicodelia da mistura entre dub e rock. Um disco bom para quem procura algo diferente e bem feito.
Fonte: w