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Crítica: Quem Tem Medo Do Desemprego?

15 de julho de 2009

O edifício financeiro mundial continua tremendo. Nada fundamental mudou desde a explosão da crise no ano passado. Apesar da mídia global e seus economistas dizerem o contrário, não há nenhuma evidência concreta de que a economia esteja saindo da crise. Ao contrário, não faltam fatores para preocupar os assustados capitalistas. Multiplicam-se no centro do sistema os indicadores confirmando que a crise está aumentando.

Sete bancos dos Estados Unidos foram fechados pelo governo na quinta-feira, 2 de julho. Com isso, já são cinqüenta e dois bancos quebrados (sem contar os estatizados) em 2009 na economia de ponta do sistema, o dobro do registrado em todo o ano passado. Todos estavam carregados dos chamados bônus securitizados. Esse é o nome técnico dado àqueles títulos de dívida privada que agora não têm mais nenhum valor no mercado. São títulos podres, conhecidos na linguagem do mercado como ?ativos tóxicos?, micos financeiros invendáveis.

O mesmo acontece com os grandes bancos. Estão todos, sem exceção, contaminados pelos ?ativos tóxicos?. O problema é que os bancos não podem dar baixa contábil destes micos pelo valor de mercado (atualmente igual a zero), pois todo seu capital viraria pó, levando-os ao mesmo desenlace daqueles outros pequenos e médios bancos queimados neste ano. É para salvar esses bancos muito grandes para quebrar [too big to fall] que são feitos os megapacotes fiscais (dinheiro público) no centro do sistema. É o mesmo ?comunismo dos ricos? que se alastra como praga nos EUA, Eurozona, Japão…

>> SAUDOSA MALOCA ? Nos Estados Unidos, não estão surtindo efeito os pacotes de resgate dos grandes bancos baixados pelo mui revolucionário governo Obama. Apesar dos trilhões de dólares do dinheiro público (público na idéia mas privado na ação) despejados nos cofres dos bancos para salvá-los da falência o volume de crédito na economia estadunidense não aumenta. Ao contrário, os bancos estão elevando juros e tarifas. A grande roda está emperrada.

Os efeitos prometidos ao grande público pelo governo não deram a cara no mercado. Esperava-se com os pacotes trilionários ressuscitar os ?ativos tóxicos?, esses vilões da crise financeira que ainda entravam a retomada do crédito privado. Obama anunciou um plano em Março com uma justificativa populista: ajudar até cinco milhões de mutuários da casa própria a refinanciar suas dívidas e evitar ordens de despejo por não pagamento. Mais uma mentira do ?primeiro presidente negro dos Estados Unidos?. Até poucos dias atrás, segundo o próprio governo, apenas vinte mil pessoas conseguiram renegociar suas dívidas. Já as ordens de despejo continuam batendo recordes: só em Maio último mais de 321 mil mutuários engrossaram o bloco da Saudosa Maloca.

O DIABO MORA NOS DETALHES ? O objetivo real de Obama é salvar os grandes bancos. E o problema econômico aparece da seguinte maneira: o que fazer com os ?ativos tóxicos? nos bancos que paralisam o sistema de crédito? Resposta do Tesouro e do Banco Central dos EUA: fazendo-os circular. Ninguém poderia discordar de tamanha obviedade. Assim, em Março, Obama garantiu solenemente aos banqueiros:

– 1. Não haveria mais quebras no sistema financeiro.

– 2. Não estatizaria mais ninguém.

– 3. Os bancos estavam livres para maquiar a vontade os balanços.

– 4. Continuaria a derrama de dinheiro público para alavancar e garantir a circulação de papéis privados.

Um pacote muito mais conservador e com a mesma cara do velho mercado financeiro do que os anteriores do facínora George W. Bush. Com esse novo saco de bondades ao povo do mercado o revolucionário governo Obama esperava que os ?ativos tóxicos?, agora na prática plenamente garantidos pelos cofres públicos, ressuscitassem e fossem desovados das carteiras dos bancos privados. Mas para desaparecer contabilmente dos balanços dos bancos, essa desova só poderia ocorrer com a absorção voluntária desses papéis pelo mercado privado e uma revalorização real dos mesmos. O sucesso do pacote dependia desse detalhe. Não ocorreu.

Mesmo com o endosso do governo mais poderoso do planeta, o máximo que ele poderia fazer no caso, o mercado continuou não se interessando pelos resistentes micos da crise financeira. Por quê? Porque a monstruosidade da oferta só pode ser resolvida de fato com a queima de grande parte deste capital apodrecido, quer dizer, com uma catástrofe bancária mundial, ou, como respondeu Ben Bernanke a um curioso senador que queria saber por que aquele pacote era necessário: ?porque senão na segunda-feira não existiria mais economia?, discorreu pacientemente o experiente professor de Economia Política e especialista em Grande Depressão de 1930.

A GRAVIDADE NUNCA DORME? O pacote de Obama (do mesmo modo que os europeus, o japonês, o chinês, etc. ) não resolveu o que se esperava que ele resolvesse, mas provocou um formidável efeito colateral: no segundo trimestre o mercado financeiro global nunca viu tanto dinheiro e tanto crédito barato se oferecendo em todos os cantos do mundo. E assim o povo do mercado voltou alegremente às bolsas de valores e aos mercados cambiais, de commodities e outros ?ativos financeiros? globais, inflacionando as ações, as moedas, o petróleo, os metais, etc. criando a ilusão de que os chamados “brotos verdejantes” na economia dos EUA estavam se fortalecendo, que a ?recuperação já era coisa certa para o segundo semestre de 2009? e outras bobagens midiáticas.

Agora, esse efeito colateral começa a perder fôlego. Com a divulgação da situação do emprego nos EUA, dia 2 de Julho, pelo Departamento do Trabalho, aquelas ilusões ficaram seriamente abaladas. E junto com elas os preços dos ativos inadvertidamente inflacionados nos últimos três meses. O prestigioso Washington Post reflete bem o estado de ânimo na população estadunidense com os novos dados apresentados: ?As perdas de emprego sepultam as esperanças de recuperação ? as perspectivas para os trabalhadores americanos são terríveis, e podem piorar ainda mais?.

Vejam outra reação muito interessante (e muito categorizada) que a Bloomberg relata no dia 6, segunda-feira: ?O Vice Presidente dos EUA Joe Biden declarou ontem que a administração Obama ?avaliou mal a economia? quando projetou 8% de desemprego se o Congresso aprovasse o plano de estimulo fiscal de US$ 787 bilhões. Biden, que apareceu no programa ?This Week? da rede ABC, declarou que a administração chegou a uma visão de consenso sobre a gravidade da crise. O desemprego alcançou 9.5% no mês passado, divulgou dia 2 de Julho o Departamento do Trabalho?.

A maior economia do mundo tem agora o mesmo número de empregos que tinha em 2000, auge da expansão do ciclo econômico anterior. Isso quer dizer que nove anos de aumento desapareceram em menos de um ano da crise atual. Avaliaremos essa evolução de crescente desemprego nos EUA junto com os novos dados da produção e da utilização da capacidade que devem sair na próxima semana. Mas faremos isso só na virada do mês, quando estaremos de volta de um pequeno descanso para refazer as energias e encarar melhor o turbulento segundo semestre que se iniciou a todo vapor. Até lá.
Fonte: José Martins

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