Sem o “Orçamento de Guerra”, recursos congelados da Saúde voltariam a patamares de 2017, o que representaria “enormes dificuldades” no combate à covid-19, segundo o infectologista Marcos Boulos
Entre 2018 e 2020, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou perdas acumulas de R$ 27,5 bilhões no Orçamento da União. A redução se deu em função da Lei do Teto de Gastos, que passou a vigorar em 2017, após ser aprovada no ano anterior, durante o governo Temer. Com a eclosão da pandemia da covid-19 – e a aprovação do Orçamento de Guerra – as perdas do SUS foram recompostas, com investimentos extraordinários de R$ 38,2 bilhões.
Contudo, sem a aprovação de um novo regime orçamentário de exceção, os investimentos totais em Saúde devem retornar a patamares equivalentes a de 2017. No entanto, os efeitos da pandemia parecem estar longe de serem superados.
Enquanto o governo Bolsonaro falha em apresentar um plano de vacinação “amplo e abrangente”, que garanta imunização para toda a população, a doença segue se alastrando pelo país.
Após dois meses, o total de mortos em sete dias volta a superar a marca de quatro mil. Informe semanal da OMS também mostrou salto de 35% nos casos da doença no país, na comparação com a semana anterior. Esses dados colocam o Brasil como o local com maior aumento percentual entre os cinco mais atingidos no período. Nesta terça-feira (8), as vítimas pela covid-19 totalizaram 842.
Dificuldades
Para o médico infectologista Marcos Boulos, o quadro é “preocupante”, já que aponta para um “estágio crescente” nos níveis de contágio. Ele afirmou que sequer é possível falar em “segunda onda”, já que “a primeira não acabou”. Em entrevista ao Jornal Brasil Atual nesta quarta (9), ele disse que a situação teria sido muito pior “se não tivéssemos o SUS” na pandemia. O atendimento aos pacientes, que na sua avaliação foi “bem sucedido”, só foi possível porque os recursos foram “recuperados”.
“Se houver uma desativação dos recursos, com diminuição dos leitos, como estava ocorrendo antes, certamente teremos dificuldades enormes de enfrentar a continuação dessa pandemia, que não vai acabar agora. E mesmo para outras, que sempre vêm. Estamos chegando no verão, quando deve aumentar o número de casos de dengue. E nós vamos precisar do SUS, como sempre”, declarou Boulos.
Alerta
Em função da disputa política em torno das vacinas, o infectologista disse que a aprovação dos imunizantes pode atrasar. Mas que, após aprovação, o ministério da Saúde deve comprar as vacinas, a serem incluídas no Plano Nacional de Imunização (PNI). No entanto, devido a esses atrasos e ao repique da doença, Boulos reforçou a necessidade das medidas de prevenção, como o uso de máscaras e o isolamento social. A preocupação especial é com as festas de fim de ano. O médico recomendou reuniões familiares até, no máximo, oito pessoas.
Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: Rede Brasil Atual