Cotada para presidir CEF já defendeu que o banco se transformasse numa sociedade anônima
Embora o presidente eleito, Jair Bolsonaro, tenha afirmado, ainda durante a campanha, em outubro, que não pretende privatizar o Banco do Brasil (BB) e a Caixa Econômica Federal, os sinais apontam para o sentido oposto. Primeiro, porque analistas e o mercado dão como certo que sua política deve seguir a linha adotada de Michel Temer, mas de forma mais radical. Em segundo lugar, porque alguns “auxiliares” de Bolsonaro, a começar por seu ministro da Economia, Paulo Guedes, já declararam ser a favor de privatizar “todas” as estatais.
Se esse desejo é fantasioso, ele pelo menos indica a intenção de desestatização geral. O nome cotado para assumir a presidência da Caixa Econômica Federal é o de Ana Paula Vescovi, secretária executiva do Ministério da Fazenda e atual presidente do Conselho de Administração do banco.
Ex-presidente da instituição, o economista Jorge Mattoso acredita que, se confirmada, a indicação obedece aos interesses de privatização. “Ela já tentou transformar a Caixa numa S.A. (sociedade anônima), como presidente do Conselho de Administração (CA). Não conseguiu, por questões jurídicas, e vai tentar de novo, de outra forma. Vão continuar tentando fazer isso com os dois bancos (Caixa e Banco do Brasil).”
Em setembro, sob comando de Ana Paula, o CA mudou o estatuto da Caixa, permitindo que diretorias da área de controle (Jurídica, Auditoria e Corregedoria) sejam ocupadas por não concursados.
Maria Rita Serrano, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa, acredita que Bolsonaro “vai agudizar o que Temer já começou”. “O processo de privatização está dado. Naquilo que não for privatizado, haverá um desmantelamento da empresa pública e diminuição de seu papel. Na Caixa isso já acontece. Ela perdeu 15 mil trabalhadores de 2014 para cá. O BB também vem perdendo.”
“Como presidenta do Conselho de Administração, (Ana Paula Vescovi) é responsável pelo enxugamento do banco com relação aos investimentos sociais e, além disso, ela é da Fazenda. Então, ela defende a política da Fazenda.”
A situação do país, caso os bancos públicos sejam privatizados, ficará difícil, na opinião de Maria Rita. “Quem investiu no país nos últimos anos foram os bancos públicos e as empresas públicas de modo geral. Ao privatizá-los, vai-se favorecer o capital internacional, como vem sendo feito no caso da privatização das subsidiárias da Petrobras e Eletrobras. O país volta a ser colônia.”
Para ela, a privatização do “miolo” de ambos os bancos, no momento, não é prioridade, e sim a desestatização de operações e setores lucrativos, como as loterias, o próprio Fundo de Garantia, área de cartões e seguro. Ela lembra, por exemplo, que está marcado para o próximo dia 29 o leilão da Loteria Instantânea (Lotex). “A política é a mesma do governo que está aí. A diferença é que Temer não tem legitimidade e o futuro presidente foi eleito. Devemos sofrer um grande ataque às empresas públicas”, prevê.
Poucas pessoas sabem, mas as loterias da Caixa destinam cerca de 40% de sua arrecadação a programas sociais nas áreas de educação, esporte, cultura, saúde e Previdência. No edital de leilão da Lotex, a Caixa está proibida de participar, mesmo em consórcio com outras empresas, e o edital prevê ainda que só 16% do arrecadado irá para a área social. “O objetivo é primeiro privatizar a Lotex e depois o conjunto das loterias”, acredita Maria Rita.
Fonte: Rede Brasil Atual