Decididamente, o Brasil de Jair Bolsonaro é um ponto fora de curva. Que o diga a gigantesca filial brasileira do espanhol Santander, maior banco europeu, com 157 milhões de clientes no mundo (dos quais, 50 milhões usam os canais digitais), que teve no 1º semestre a 1ª queda de lucros e reduziu a posição de liderança no conglomerado de Ana Botin. No mundo, o Santander lucrou 4,894 bilhões de euros, aumento de 16% sobre o 1º semestre de 2021
O Santander Brasil, 1º a apresentar lucros entre os bancos brasileiros, seguiu liderando os ganhos globais, com 1,365 bilhão de euros. Mas o aumento de provisões para bancar o avanço da inadimplência, devido à escalada das taxas de juros – que só perde para as da Argentina, e deixou empresas e pessoas físicas em dificuldades -, fez o lucro encolher 1,1% em euros e reduzir de 36,76%, no 1º semestre de 2021, para 27,89% a fatia do Brasil no lucro global do conglomerado espanhol.
No 2º trimestre, o lucro global foi de 2,351 bilhões de euros, com alta de 14% em euros correntes e 2% descontada a inflação. A filial brasileira contribuiu com 737 milhões de euros, um aumento de 5,7% sobre o 1º trimestre e representou 31,3% do lucro global.
No comunicado aos acionistas sobre o lucro semestral, Ana Botin destacou que a América do Sul (reforçada pelos aumentos de lucros da Argentina e do Chile, que juntamente com o Brasil praticam as maiores taxas de juros das operações do conglomerado), embora “tenha 15% dos empréstimos” (…) acabou “gerando 33% de nosso lucro”. A Espanha, matriz do banco, teve lucro de 652 milhões de euros (+86%), perdendo, também, para os 736 milhões de euros do Reino Unido (+76%) e para os ganhos de 1.090 bilhão de euros nos Estados Unidos (onde houve queda de 21% nos lucros semestrais, por impactos cambiais).
Brasil em 2º plano
O Brasil, sempre destacado nos informes globais do banco, ficou em 2º plano no informe do 2º semestre que destacou: “A forte atividade, bem como o aumento das taxas de juros dos bancos centrais no Reino Unido, Polônia e outros países, apoiaram um aumento de 7% no lucro líquido dos juros, com crescimento particularmente forte no Reino Unido (+13%), Polônia (+92%), México (+9%), Chile (+7%) e Argentina (+93%). O lucro líquido também aumentou 7% graças aos maiores volumes e à melhora da atividade. Por exemplo, o volume de negócios de cartões e pontos de venda aumentou 20% e 30%, respectivamente.
O lucro subjacente do primeiro semestre cresceu 38% na Europa, para € 1,839 bilhões e 7% na América do Sul, para € 1,946 bilhões, enquanto diminuiu 10% na América do Norte para € 1,578 bilhões devido à normalização esperada nas provisões de perdas de empréstimos. Os lucros subjacentes do Digital Consumer Bank também cresceram fortemente (+16%) para € 572 milhões. A conectividade em todo o grupo continuou a impulsionar o crescimento da receita e a eficiência de custos. A PagoNxt, por exemplo, aumentou as receitas em 87% ano a ano em euros constantes, enquanto os negócios globais do grupo continuaram a ter um bom desempenho, com um resultado particularmente forte no Corporate & Investment Banking: seu lucro subjacente cresceu 28%, para € 1,531 bilhões.
O Santander no Brasil
No balanço em reais da filial brasileira, o lucro foi de R$ 4,084 bilhões no 2º trimestre (abril a junho), com aumento de apenas 2% frente ao 1º trimestre, enquanto o ganho semestral somou R$ 8,089 bilhões, uma redução de 0,5% frente ao mesmo período do ano passado. Entretanto, como a inflação em 12 meses atingiu 11,9% em junho, queda real dos lucros foi mais acentuada. O próprio balanço semestral indica que os lucros antes dos impostos (R$ 10,476 bilhões) tiveram queda de 20,3% frente a igual período do ano de 2021.
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O banco acusou aumento de custos, sobretudo salariais, em decorrência das reposições salariais para acompanhar a elevada inflação, e o aumento da inadimplência, que exigiu o reforço das provisões (erro que o banco não fez em 2020 e 2021). As provisões de créditos cresceram 24,6% no 2º trimestre (R$ 5,745 bilhões) e somaram R$ 10,357 bilhões no semestre (aumento de 59,7%).
O risco da inadimplência
A inadimplência total nas operações com atraso acima de 90 dias avançou de 2,2% em junho de 2021 para 2,9% em junho deste ano (2,7% em dezembro). A maior deterioração foi na carteira de pessoas físicas, que representam 46,18% dos empréstimos (um aumento de 14% em relação ao 1º semestre de 2021) e aumentou de 3,2% em junho de 2021 para 4,1% em junho último (3,6% em dezembro).
Vale notar que boa parte dos empréstimos envolve cartões de crédito. Em termos de receitas de serviços, os cartões de crédito são a maior fonte do Santander no Brasil. No 2º trimestre, para receitas totais de R$ 4,886 bilhões (+ 5,7% sobre o 1º), os cartões de crédito geraram R$ 1,402 bilhão em receitas (+5,5%). No ano, para receitas totais de R$ 9,499 bilhões (um aumento de 3,8%) sobre o 1º semestre de 2021, os cartões de crédito arrecadaram R$ 2,731 bilhões, um avanço de 24,7% em relação ao mesmo período de 2021. O outro lado da moeda, é que essa facilidade de crédito, com as maiores taxas de juros do país, provoca um endividamento em bola de neve em muita gente.
Nas pessoas jurídicas a inadimplência ficou estável em 1,1% em junho (como em 2021), depois de atingir 1,3% em dezembro e 1,4% em março deste ano. O banco não discriminou a situação das grandes empresas (R$ 123,802 bilhões, redução de 4,1% frente ao 1º semestre de 2021) e das pequenas e médias empresas, contempladas com R$ 62,5 bilhões em empréstimos, que representam apenas 13,37% da carteira de crédito), menos que os R$ 65,690 bilhões em financiamento ao consumo. O alto nível dos juros no Brasil explica muito da inadimplência, situação que tende a se agravar na Argentina, com as maiores taxas de juros do Grupo Santander no mundo.
Brasil perde importância no lucro do Santander (em milhões de euros)
Crédito: Fabiano Couto
Fonte: Jornal do Brasil – 28/07/22
Escrito por: GILBERTO MENEZES CÔRTES