Meia década de resistência e luta por justiça. Quem mandou matar Marielle?
Em Santos, nesta terça-feira, 14 de março, mulheres protagonizaram um ato poético-performático que consiste em ‘bordar’ com tecido, a frase “Marielle Vive” na grade da Estação da Cidadania de Santos. A manifestação é uma iniciativa do Coletivo Feminista Classista Antirracista Maria vai com as Outras. Ao longo do dia, outras duas atividades ainda irão acontecer defendendo a memória de Marielle Franco e, principalmente, cobrando respostas às perguntas: quem mandou matar Marielle e por quê?
“Marielle e Anderson sintetizam os mártires que lutaram pela emancipação da classe trabalhadora, uma sociedade livre e socialista. Todos aqueles que se levantam contra o capitalismo colocam sua vida em risco. Não existe justiça para os pobres, negros, mulheres e LGBTs dentro do capitalismo. Marielle simboliza toda a nossa luta e seguiremos buscando respostas”, ressalta Eneida Koury, secretária de Finanças do Sindicato dos Bancários de Santos e Região.
Assassinato
Quinta vereadora mais votada da cidade do Rio em 2016 (com 46.502 votos), a ativista feminista, negra e liderança na favela da Maré, onde cresceu, Marielle Franco, foi morta a tiros no bairro do Estácio, região central, por volta das 21 horas. Ela estava dentro de um carro acompanhada do motorista Anderson Gomes, que também foi morto, e de uma assessora, que sobreviveu. Quatro dos nove tiros dirigidos contra a vereadora atingiram sua cabeça.
A parlamentar voltava do evento Jovens Negras Movendo as Estruturas, na Lapa, quando teve o carro emparelhado por outro veículo. Nenhum sinal de assalto, mas fortes indícios de execução.
Quatro dias antes, Marielle havia denunciado o assassinato de dois jovens e a truculência policial durante operações na Favela de Acari, na zona norte do Rio na última semana. Ela compartilhou uma publicação no Facebook e comentou que o batalhão que atua na região é conhecido como “batalhão da morte”. Escreveu: “Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”.
Mandato
Usava o mandato para denunciar a violência policial e para cuidar dos interesses e preocupações de mulheres negras como ela. Eleita pelo PSOL, a socióloga pós-graduada em administração pública acabara de ser nomeada relatora da comissão da Câmara Municipal que deveria fiscalizar a intervenção militar na segurança do estado do Rio.
Marielle estava no primeiro mandato como parlamentar. Tinha 38 anos. Era socióloga, com mestrado em Administração Pública. Foi à luta contra a violência policial nas favelas que a aproximou da política. Foi aluna e depois assessora de Marcelo Freixo, na Assembleia Legislativa do Rio.
Intervenção militar
A vereadora era uma das vozes mais duras contra a intervenção militar no Rio de Janeiro, decretada por Temer. Há duas semanas, havia assumido a relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio, criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do estado.
Marielle, Presente!