Cidades e estados voltam a registrar aumento de infectados pelo novo coronavírus. Pandemia está descontrolada no Brasil, afirmam cientistas, nesta quarta-feira, dia 22
“O Brasil segue quebrando recordes em mortes diárias na América Latina e Caribe (…) Embora muitos tenham se acostumado com a subnotificação de mortes pela covid-19, esse número pode ser ainda maior e ter facilmente ultrapassado os 100 mil”. A avaliação é do epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana, ao analisar os números atualizados da pandemia no país.
Até ontem (22/07) quarta-feira, o país registrou, novamente, mais de mil mortes causadas pela infecção: 1.284 vítimas, totalizando 82.771 vidas perdidas para a covid-19 . Já o número de casos bateu recorde desde o início da pandemia, em março. Foram 67.860 novos registros de infectados. O total está em 2.227.514. Os dados – do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conass – mostram que a curva epidemiológica do vírus segue em crescimento e sem freio.
O número de mortos e infectados pela covid-19 no Brasil segue seu rastro trágico. Muitas regiões voltam a apresentar alta nas mortes e casos, poucas semanas após a suspensão das medidas de isolamento social que nunca chegaram a ser rigorosas.
Dados, de 22/07, compilados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass)
Descontrole e irresponsabilidade
Jesem cita o caso de Manaus como exemplo. A cidade foi afetada de forma severa logo nas primeiras semanas do surto. A partir de uma relativa estabilidade, apesar de em número elevados de casos e óbitos, os governos locais passaram a abrir mão das medidas sanitárias de distanciamento social. Muito precoce, avalia o epidemiologista. “Foi como seria de se esperar e ao contrário do que muitos acreditavam. Manaus, cidade mais castigada pela epidemia de covid-19 no Brasil e uma das mais afetadas do planeta, voltou a ver o número oficial de mortes aumentar”, disse.
Da última quarta (15) até ontem (21), houve aumento de 42% nas mortes na capital amazonense, em comparação com a semana imediatamente anterior (8 a 14). “Desde o dia 1º de junho, data que marca o precipitado anúncio de reabertura do comércio e atividades não essenciais pelo governo do Amazonas, foram notificados, só em Manaus, mais de 14 mil casos de covid-19”, observa Jesem.
O pesquisador completa: “Mesmo com tantos dados do próprio governo, especialmente os de adoecimento. Ainda assim, alguns insistem em defender, de forma equivocada, a tal da ‘imunidade de rebanho’, superficialmente compreendida por grande parte desses indivíduos que prestam um lamentável desserviço com suas infelizes interpretações”.
À deriva
Jesem lembra da conjuntura política no enfrentamento ao coronavírus, também em âmbito federal. Enquanto governadores e prefeitos se precipitam, o presidente Jair Bolsonaro insiste em minimizar a doença e a pandemia, e em receitar remédios “milagrosos”, comprovadamente sem eficácia, como a cloroquina. “É muito provável que em poucos meses tenhamos que documentar a mais devastadora tragédia sanitária e humanitária da história republicana do Brasil.”
“Este é o Brasil contemporâneo, à deriva na pandemia, com três ministros da saúde diferentes nos últimos 100 dias e com data indefinida para controlar a crise que ganha força dia após dia, interiorizando-se e afetando gravemente lugares até então “poupados”, como o sul do país e povos indígenas”, acrescenta o cientista.
No mundo
O Brasil está há 13 semanas com a pandemia fora de controle, de acordo com o “Imperial College” de Londres, uma das mais respeitadas instituições de pesquisa em epidemiologia do mundo. O instituto britânico também leva em conta o tamanho do país, além da subnotificação mais intensa fora dos grandes centros.
O cenário é mais grave do que mostram os números, afirma a instituição. Segundo estudos, o número dos infectados no Brasil é de pelo menos o dobro dos dados oficiais, dada a estrutura precária e o baixo número de testes que o país aplica à população. Ainda de acordo com o Imperial College, mais de 7.800 mortes devem ser registradas no Brasil durante esta semana.
Enquanto isso, na América Latina, atualmente apenas Chile e Bolívia apresentam redução no ritmo de contágio, ainda segundo aquela instituição. A região é o atual epicentro da pandemia no mundo e o Brasil, por sua vez, o epicentro regional. Há mais de duas semanas o país lidera as mortes diárias por covid-19.
Se comparado com os vizinhos da América do Sul, o cenário brasileiro se mostra muito mais severo. Enquanto 11 países do continente somam cerca de 40 mil mortos pelo novo coronavírus, o Brasil, sozinho, tem mais do que o dobro, com número de vítimas acima de 80 mil.
Crédito: Brasil de Fato
Fonte: Rede Brasil Atual
Escrito por: Gabriel Valery, da RBA