Empregados denunciam que abertura de capital é primeiro passo para a privatização e condenam ação, que não ocorre nem nos bancos privados
Sob muitos protestos dos bancários, a gestão Bolsonaro e Paulo Guedes confirmou a abertura de capital, conhecida como IPO (sigla em inglês para Oferta Pública Inicial), da Caixa Seguridade. O pregão foi realizado nesta quinta (29), na Bolsa de Valores, na região central de São Paulo. Os trabalhadores denunciam que a operação representa o primeiro passo para a privatização da Caixa. Também rechaçam a estratégia utilizada, bem como a pressão exercida sobre os empregados diante da brusca queda de valor estimado para o negócio.
Dois dias antes, os bancários realizaram uma paralisação de 24 horas em todo o país. Foi o chamado Dia do Basta, ao qual os organizadores estimaram em cerca de 40% a adesão. A CNN Brasil atestou a abrangência ao publicar nota afirmando não ter conseguido entrar em contato com ao menos 10 unidades em cidades paulistas. Os empregados seguem em estado de greve.
Recepção
Na manhã desta quinta, o presidente do banco, Pedro Guimarães, foi recebido por uma manifestação dos trabalhadores ao chegar à Bolsa. Dirigentes sindicais anunciaram a presença em meio a uma performance teatral que incluía uma viúva chorando.
Empregados foram assediados para comprarem ações
A pressão para comprar ações, segundo denunciam os bancários, vem da queda do valor projetado para a abertura de capital da Caixa Seguridade. Eles afirmam que a gestão Bolsonaro-Guedes teve de suspender operação em setembro do ano passado por causa da instabilidade do mercado provocada pela pandemia. Na ocasião, o negócio estava avaliado em R$ 60 bilhões e agora, com o agravamento da crise sanitária, despencou para R$ 36 bilhões.
Vender pra quê?
Além da privatização, os bancários denunciam que a gestão Bolsonaro-Guedes está entregando ao capital privado uma das áreas mais lucrativas da Caixa. O segmento representa nada menos do que 45% do resultado do banco. Argumentam, ainda, que os três grandes bancos privados do país – Bradesco, Itaú e Santander – não têm as ações das subsidiárias de seguros listadas em bolsa. No Bradesco, o braço de seguros corresponde a 50% do lucro.
Um erro estratégico apontado é que a abertura de capital vai causar descapitalização da ordem de um terço da estatal. Além disso, grande parte do valor arrecadado será usado para antecipar a devolução dos chamados Instrumentos Híbridos de Capital e Dívida (IHCD).
Justiça e CVM
O movimento sindical bancário protocolou na Justiça Federal de Brasília ação popular contra a IPO da Caixa Seguridade. Os bancários basearam a ação no conflito de interesse na atuação da Caixa como intermediadora na venda. Também alegam violação das normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), colegiado que regulamenta a oferta pública de ações.
Dias antes, dirigentes sindicais de São Paulo protocolaram denúncias na mesma CVM alegando descumprimento das instruções 539 e 400 da Comissão. Apontam como ilegal oferecer as ações para 100% dos seus clientes, quando apenas 10% estariam qualificados para a compra, seja pela sua condição financeira, seja por sua perspectiva de investimento de médio e longo prazo.
Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Fonte: Rede Brasil Atual com edição da Comunicação do Sindicato dos Bancários de Santos e Região