O BB vendeu uma carteira no valor de R$ 2,9 bilhões ao BTG Pactual. Banco em que o Ministro da Economia, Paulo Guedes, é cofundador
A mais recente investida de Paulo Guedes no caminho das privatizações aconteceu dias após o Banco do Brasil anunciar a venda de carteiras de crédito, a maioria em perdas, a um fundo do BTG Pactual, banco cujo ministro é cofundador. Essa é primeira vez que o BB faz a cessão de carteira a um banco que não pertence ao seu conglomerado. A carteira cedida tem valor contábil de R$ 2,9 bilhões e o impacto financeiro da transação será de R$ 371 milhões, antes dos impostos, que serão lançados no terceiro trimestre.
Paulo Guedes é um dos fundadores do BTG e a operação pode ter sido encomendada pelo ministro. Segundo os representantes dos funcionários, deveria ser realizada uma auditoria urgente. “Trata-se de um banco público e precisamos da transparência das cessões de carteiras bilionárias a bancos particulares. A notícia sobre a operação chegou à opinião pública somente depois que o negócio já havia sido consolidado”, diz Eneida Koury, presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região.
Segundo a economista do Dieese, Cátia Uehara, faltou transparência no processo de cessão da carteira do BB ao BTG. De acordo com Uehara, os bancos, periodicamente, procuram “limpar” seus balanços cedendo créditos podres para empresas no intuito de reduzir custos e o índice de inadimplência. Essas empresas/fundos, explica Uehara, compram essas carteiras e, por meio de um processo chamado securitização, transformam ativos; como cheques, crédito, duplicatas e outros recebíveis em atraso; em um título. Para os compradores, continua a economista, o lucro vem da diferença entre o que eles pagaram ao banco e o que receberão ao cobrar esses recebíveis/dívidas no futuro. “Todavia, no caso da operação realizada pelo BB com o BTG Pactual, não fica claro se o valor da carteira cedida de R$ 2,9 bilhões é justo, pois o BB não explica qual o tipo da carteira. Menciona somente que ela é ‘majoritariamente em perdas’, não havendo transparência na operação”, enfatiza a economista.
Autoritarismo
Em um canal interno do BB, quando questionada por um funcionário, que argumentou se a transação não estaria atendendo a algum interesse de Guedes, um gestor reagiu de forma totalitária, censora e intimidadora: “Sua colocação não está compatível com o nosso código de conduta, pois traz ilações inaceitáveis. Estou te ligando para entender melhor por que você se permitiu registrar esse comentário”, respondeu o gestor.
“O autoritarismo, uma característica deste governo tomou conta do banco. Por exemplo, a direção do BB tem feito vista grossa para acusações de assédio por parte de gestores contra funcionários e não admite críticas em suas operações no mínimo esquisitas”, diz André Elias, dirigente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e funcionário do BB.
“A operação sem a transparência devida e da forma como ocorreu, sinaliza que a privatização está em curso. A venda do BB atingiria os funcionários e a sociedade em geral. O crédito agrícola dos pequenos e médios produtores perderia sua função de desenvolvimento ao país e se tornaria meramente especulativo quebrando-os. O BB tem papel importante n o orçamento público federal em áreas como saúde, educação e segurança pública”, finaliza Eneida.
De 2000 e 2019, o BB repassou R$ 56.793 bilhões à União. Só em 2019 foram repassados R$ 3,7 bilhões. Os brasileiros e a opinião pública precisam saber da importância do banco no desenvolvimento do Brasil e ajudar na luta para defender esse importante patrimônio.
Fonte: Comunicação do SEEB de Santos e Região e SEEB do ES