Em meio a cenário de retração econômica, instituições privadas registram maiores lucros da história; ainda assim, cortam milhares de postos de trabalho
Os balanços dos três maiores bancos privados que atuam no Brasil comprovam que a crise econômica passa longe do setor financeiro. Juntos, Bradesco, Santander e Itaú lucraram R$ 48 bilhões em 2015, aumento de 15,5% em relação a 2014, quando ganharam R$ 41,8 bilhões. Tanto Itaú quando Bradesco registraram os maiores resultados da história, com R$ 23,8 bilhões e R$ 17,8 bilhões respectivamente.
Resultado tão expressivo não foi suficiente para se convencerem a contratar. Pelo contrário: no período foram eliminadas 2.711 vagas no Itaú e 2.659 no Bradesco. O Santander criou 715 postos de trabalho.
Os bancos múltiplos com carteira comercial, categoria que engloba grandes instituições como Itaú, Bradesco, Santander, HSBC e Banco do Brasil, eliminaram 7.248 empregos em 2015 – isso representa 73% do total de cortes no setor, que foi de 9.886. Na Caixa, foram fechados 2.497 postos de trabalho no período (25% do total), grande parte abrangida pelo Programa de Apoio à Aposentadoria. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Além de diminuir seu quadro de pessoal, os bancos engordam seus expressivos lucros com rotatividade, já que os admitidos recebem pouco mais da metade do que ganhavam os demitidos. Em 2015, os desligados tinham remuneração média de R$ 6.308,10, enquanto que o salário médio dos contratados foi de R$ 3.550,19, ou seja, 56% menos.
Além disso, cobram caro pela prestação de serviços, sem bancários suficientes. O resultado: trabalhadores sobrecarregados e adoecidos, clientes insatisfeitos e bancos ganhando muito. Juntos, Itaú, Bradesco e Santander arrecadaram R$ 61,9 bilhões só com a cobrança de tarifas. Em todos, essa receita cobre com folga a folha de pagamento. Em 2015 a relação entre receita de prestação de serviços e tarifas foi de 150,74%.
Sociedade extorquida
Se economizam cortando postos de trabalho e contratando novos funcionários com salários mais baixos, os bancos também ganham muito extorquindo a sociedade. Além das altas tarifas, os juros escorchantes são um caso à parte: taxa do rotativo do cartão atingiu em dezembro 415,3% ao ano, de acordo o Banco Central (BC). O rotativo é o crédito tomado pelo consumidor que parcela a fatura do cartão de crédito. Essa é a modalidade com taxa de juros mais alta na pesquisa do BC.
Os três bancos ainda faturaram em 2015 R$ 133,8 bilhões em Títulos de Valores Mobiliários, variação de 50,4% em relação a 2014 (R$ 88,9 bilhões), influenciado pelos sucessivos aumentos da taxa Selic e da alta inflação. E quem disse que perdem com a crise?
Fonte: Seeb SP