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Automedicação: prática comum que preocupa especialistas

25 de novembro de 2017

A automedicação é a prática de ingerir medicamentos sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de um médico ou outro profissional habilitado. Em outras palavras, é a ingestão de medicamentos por conta e risco do indivíduo.

A automedicação é uma realidade cada vez maior para a população brasileira, que preocupa os médicos pelos inúmeros riscos à saúde, como o agravamento de doenças, o mascaramento de sintomas e as interações medicamentosas. As intoxicações pelo uso de medicamentos, por exemplo, foram responsáveis pela morte de aproximadamente 19 mil pessoas no Brasil apenas em 2013, segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Já o Ministério da Saúde aponta que a automedicação levou mais de 60 mil pessoas ao hospital entre 2010 e 2015.

 

Pesquisa realizada pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) neste ano, para traçar um perfil das pessoas que sofrem com cefaleia, traz dados alarmantes: 81% declararam tomar medicamentos sem a orientação de um profissional. Dos pacientes com enxaqueca crônica, 74% declararam se automedicar, número que atinge 36% entre as pessoas com enxaqueca episódica. Além disso, mais da metade (58%) dos pacientes que sofrem de cefaleia disseram indicar analgésicos para outras pessoas, enquanto exatamente metade das pessoas aceita essas indicações de não profissionais.

 

Preencha a pesquisa Bancári@s da Baixada Santista (leva no máximo 3 minutos)

 

Da mesma forma, levantamento do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) aponta que 72% das pessoas toma remédios por contra própria e 40% fazem autodiagnóstico por meio da internet. Os participantes da pesquisa ainda dizem evitar ir ao pronto-socorro por conta da lotação das unidades e também por acreditarem que a opinião do médico não é importante para sintomas de saúde. Outro estudo, realizado pelo Instituto Hibou, identificou que os moradores do Sudeste são os que mais se medicam de maneira indiscriminada: apenas 8% nunca o fizeram. A maioria por conta de dores de cabeça (42%), na lombar (41%), na cervical (28%) e nas pernas (26%).

 

Conforme explica Marcelo Ciciarelli, membro da ABN e coordenador da pesquisa em questão, a automedicação tem riscos inerentes: problemas gástricos, hepáticos e renais que podem surgir decorrente da ingestão dos remédios. Em um aspecto mais específico, o uso repetitivo de analgésicos pode trazer a cronificação da dor, aumentando a frequência e a intensidade das crises. A entidade tenta pensar em alternativas para controlar o uso, já que são medicamentos de venda livre. Uma das propostas é colocar avisos nos analgésicos, alertando para a possibilidade de piorarem o quadro, ao invés de trazer benefícios.

 

“Quem tem uma frequência grande de dores de cabeça precisa de tratamento preventivo, que não é realizado com analgésico. São remédios profiláticos para diminuir a frequência das crises. Temos de deixar claro para a população que a automedicação pode piorar as dores. E também de que se a pessoa tem três ou mais crises ao mês, por mais de três meses, deve procurar um médico antes que o quadro se agrave”, afirma.

 

Dores de estômago e no corpo

 

Estes são outros dois campos que apresentam alta incidência do abuso da automedicação. Segundo Flávio Steinwurz, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia, o uso de inibidores de bomba protônica (IBPs) – remédio comum de livre venda – sem indicação médica é completamente desaconselhável, podendo trazer, principalmente no longo prazo, consequências desagradáveis.

 

“Estes medicamentos são úteis para o tratamento das patologias que cursam com excesso de ácido, tais como esofagite, gastrite e úlceras pépticas. Diminuindo a liberação do ácido em pessoas que não têm essa necessidade, há chances de interferir na digestão e na absorção de substâncias e nutrientes que requerem o ácido para serem processados. Além disso, vários desses remédios têm interação medicamentosa com outras drogas que o paciente possa estar usando e isso somente o médico é capaz de determinar. Também deve ser levada em conta a condição clínica do indivíduo, já que alguns inibidores são metabolizados pelo fígado e outros pelos rins”, relata Steinwurz.

 

O especialista acredita que a automedicação com IBPs tornou-se muito grande no Brasil e que há necessidade de regulação governamental para impedir a livre comercialização destes remédios, para que se tenha um mínimo de controle. “Nos Estados Unidos, por exemplo, eles são vendidos somente com prescrição médica e, apenas recentemente, algumas formulações com doses baixas passaram a ter venda livre. A ideia de que devem ser usados regularmente com outros tratamentos para proteger o estômago também é equivocada, na maioria das vezes, e deve ser combatida. Há que se educar a população brasileira para que evite a automedicação de forma geral”, alerta.

 

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Alberto Naoki Miyazaki, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – Regional São Paulo (SBOT-SP), explica que as medicações que combatem as dores no corpo são extremamente eficazes, no entanto, efeitos adversos podem ocorrer, dependendo da sensibilidade dos pacientes a determinadas drogas. “São mais comuns a reação alérgica, gastrite, aumento da pressão arterial, obstipação intestinal, insuficiência renal em casos mais graves etc.”

 

Ainda de acordo com ele, os medicamentos que não necessitam de receita médica são aqueles devidamente regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e que teoricamente o paciente pode utilizar mesmo sem recomendação médica. “No entanto, caso não obtenha êxito, é indicado procurar orientação médica”, finaliza.

 

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Fonte: Afubesp
Escrito por: Guilherme Almeida – Revista APM

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