O Brasil será cada vez mais o motor do crescimento dos lucros do Santander e o México terá o mesmo papel para o BBVA, superando os resultados obtidos na Espanha, país de origem dos dois grandes bancos.
A previsão foi feita em um estudo sobre bancos ibéricos feita pelo Banco BPI, de Portugal. Os mercados emergentes em geral representarão 57% dos ganhos do Santander e do BBVA dentro de dois anos, de acordo com o chefe do estudo, o analista Carlos Peixoto, levando em conta o potencial dessas economias dinâmicas, em comparação a estagnação nos paises desenvolvidos.
No caso do Santander, o Brasil já contribui com a maior fatia do lucro desde o terceiro trimestre, por volta de 25% do total. Até 2013, sua importância será ainda maior em relação ao mercado espanhol: o resultado no Brasil representará 37% do lucro global, enquanto as operações na Espanha cairão de 37% para 24% do total.
A herdeira Ana Patricia Botin assumiu recentemente a direção do Santander no Reino Unido. Mas a expectativa é de que as operações britânicas continuem representando cerca de 20% do resultado. A diversificação na Polônia garante 2% no total dos lucros.
Já o BBVA obtém no México 26% de seus ganhos, mas esse percentual aumentará para 32% em três anos, enquanto na Espanha e Portugal cairá de 43,3% para 36%. A América do Sul responderá por cerca de 16% nos lucros dentro de três anos, numa ligeira alta, e o mercado americano manterá sua fatia de 19%.
Para os dois grandes bancos espanhóis, a baixa taxa de bancarização e menor dependência de “funding” criam espaço para plataformas sustentáveis de crescimento no longo prazo na América Latina. A expectativa é de que a taxa composta de crescimento (que mede o retorno de um investimento) do Santander na América Latina seja de 15% entre 2009 e 2013, liderada pela alta anual de 18% no Brasil.
“Os empréstimos continuam a expandir no Brasil a taxas solidas, como os 19% até agosto, e achamos que continuarão crescendo a dois dígitos”, diz Carlos Peixoto, do BPI em Lisboa. “A economia brasileira tem boas perspectivas combinada com programas de infraestrutura. A qualidade dos ativos melhorou significativamente e esperamos estabilização nos calotes em 2011.”
O Brasil representa 9% na distribuição geográfica do estoque de empréstimos de ?717 bilhões do Santander em 2010.
Já na Espanha, a economia continuará fragilizada, e a exposição no setor imobiliário e de construção afeta os resultados. O total de empréstimos para companhias imobiliárias representa 16% do crédito fornecido tanto pelo BBVA como pelo Santander na Espanha.
No geral, os bancos espanhóis têm um “amortecedor” contra a queda de preços de 40% a 50% no setor imobiliário. Mas, se o sistema financeiro é bem mais vulnerável que essa queda de preços, no caso do Santander a situação é bem mais calma.
A taxa de calotes pode aumentar em 2011 no mercado espanhol, acima dos 4,15% de setembro. No caso do Santander, a taxa de calote nos EUA era de 4,8%, superior aos 4,2% na América Latina.
Santander e BBVA têm situação bem mais confortável que o resto do sistema financeiro espanhol. Mas acumulam também quase metade da divida publica espanhola em mãos dos bancos e “cajas de ahorros” e que alcançam ?191,7 bilhões.
O Santander tem em seu balanço ?48,5 bilhoes da divida soberana da Espanha, ou 25% do total. O BBVA concentra ?43, 9 bilhões, ou 23% do total. Para analistas, de um lado isso mostra que os bancos espanhóis mantêm disposição para comprar títulos públicos em razão da maior taxa de juros.
De outro lado, os bancos se veem duplamente afetados pela crise da dívida soberana, já que é forte a desconfiança sobre a capacidade dos governos de honrar seus compromissos, encarecendo as emissões dos próprios bancos.
Fonte: V