“Como gênero, somos oprimidas, mas enquanto classe trabalhadora, somos exploradas. E é aí que se encontra o ponto inicial da luta que travamos”, analisou a dirigente sindical chilena, Viviana Abud, subcoordenadora de mulheres da América Latina da FSM (Federação Sindical Mundial) e Secretária Geral do SITECO (Sindicato Interempresa de la Gran Minería y Ramas Anexas) na noite desta quarta-feira, 30.
Convocada pelo coletivo de Mulheres da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora a atividade teve como objetivo debater a América Latina na perspectiva de classe e gênero.
Segundo Viviana, é preciso fazer uma análise do que é gênero e classe, para poder compreender a luta feminista. “Historicamente, as mulheres têm sido oprimidas, mas não temos de falar somente de opressão, mas também de exploração”.
Ela explica que opressão e exploração são dois termos que muitas vezes confundimos ser a mesma coisa, mas há uma diferença: a opressão se aplica às questões de gênero, seja para mulheres proletárias ou burguesas, enquanto a exploração divide as vítimas da opressão em classes distintas.
“Quando falamos de gênero, estamos falando da mulher exploradora e da mulher explorada. Ai está a diferença”, define. De acordo com Viviana, para terminar com a opressão da mulher, também tem de se terminar com a exploração da classe trabalhadora.
Formação com recorte de gênero
Viviana lembra que seus companheiros proletários também são explorados e discriminados. Por este motivo “a luta tem de ser conjunta”.
Ela não descarta o fato de que muitos companheiros são machistas, assim como muitas mulheres também. “Mas o que vamos fazer?”, pergunta.
Para ela a única maneira de reverter este quadro é pelo caminho da formação. “A luta das mulheres não tem de ser uma bandeira exclusiva das mulheres, tem de ser uma bandeira da classe trabalhadora em seu conjunto. Pelo contrário vamos avançar em pequenos passos”.
Ela enfatiza que o movimento feminista é muito importante, especialmente quando tem um recorte de classe, que une a todas e todos.
Viviana citou um trecho do discurso “A contribuição da mulher proletária é indispensável para a vitória do socialismo”, de Clara Zetkin, grande dirigente marxista e idealizadora do Dia Internacional de Luta das Mulheres (8 de março): “Clara – disse – nos apresentou uma perspectiva do que é a luta feminista”:
“A mulher proletária combate ombro a ombro com o homem de sua classe contra a sociedade capitalista (…) ainda que as mulheres consigam a igualdade política, nada muda na relação de forças. A mulher proletária se coloca como parte do proletariado e a burguesa como parte da burguesia. Não nos deixamos enganar pelas tendências socialistas no seio do movimento feminino burguês: se manifestarão enquanto as mulheres se sintam oprimidas, mas nada além disso. Enquanto a mulher proletária está na luta pela liberdade da classe proletária”.
Segundo ela, aí que entra a luta da organização sindical para cumprir o fundamental papel da organizar dentro dos sindicatos, das centrais, das federações e confederações, coletivos de trabalho feministas ou de gênero. “As organizações sindicais são uma ferramenta fundamental para fazer avançar as demandas de gênero”, completou.
Para ela, um dos grandes desafios do sindicatos é a formação, e, neste caso, com recorte de gênero: “Sabemos o que é ser oprimidas e sabemos o que é ser exploradas. Nossa luta é uma luta política que necessita de formação”.
Fonte: Intersindical – Central da Classe Trabalhadora