A secretária geral do Sindicato dos Bancários de Santos e Região, Eneida Koury, ressaltou que é preciso avançar muito na luta por direitos
Em mais um ano, cerca de 5 mil mulheres e homens ocuparam as ruas neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, para denunciar os diversos debates em que a sociedade ainda precisa avançar no combate à opressão de gênero, assim como orientação sexual, raça e por conta da exploração capitalista.
Neste ano o tema principal novamente foi a preocupante violência sofrida pelas mulheres, que são vítimas diariamente de agressões domésticas, estupro e atitudes machistas nas ruas, entre outros fatores, apenas para citar algumas das motivações mais comuns.
Para se ter uma ideia, o Mapa da Violência 2012 aponta que na última década (2000-10) 43,5 mil mulheres foram assassinadas. Estima-se que quatro em cada dez mulheres já foram vítimas de violência doméstica. Os dados também demonstram que o Brasil está em sétimo lugar no ranking dos países com maiores índices de feminicídio no mundo.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo revelou que somente em janeiro deste ano já houveram 143 registros de casos de violência contra a mulher, a grande maioria cometida por maridos e namorados. É importante ressaltar que estes são dados registrados em ocorrências, no entanto, acredita-se que cerca de 60% dos casos não sejam denunciados.
Jéssica, Silvane, Alana, Thays, Sandra Lúcia, Michelli, Andréia. Estes são alguns nomes de mulheres que, absurdamente, tiveram suas vidas interrompidas apenas neste início de 2014 e que foram lembradas no ato por meio de fotos, falas e uma intervenção cênica com participação das próprias militantes de diversas entidades que o construíram.
Exploração no trabalho
No ambiente de trabalho apesar do aumento do número de mulheres no mercado de trabalho, a precariedade ainda continua recaindo sobre elas. Nadia Gebara, assessora do Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas, Osasco e Vinhedo, relata que nas fábricas as mulheres ainda enfrentam muitos problemas com assédio sexual e moral.
Ela ressalta que por ser um tipo de trabalho que exige esforço físico, as mulheres ainda são estigmatizadas como frágeis e acabam sendo preteridas, dificultando, assim, a ascensão na empresa. "Os trabalhos mais rotineiros ainda são relegados às mulheres. Isso gera uma dificuldade maior de plano de carreira, inclusive de reconhecimento pelo trabalho. Você dificilmente vai aceitar uma mulher eletricista ou mecânica, normalmente elas são relegadas aos serviços gerais", afirma.
Nos bancos, a situação também ainda é de subestimação, mesmo com a maior parte da força de trabalho dentro das instituições privadas, por exemplo, já ser composta por mulheres. Segundo dados do DIEESE, as bancárias ainda recebem em média 23,9% menos que os homens.
Bancárias
"Ainda temos muito que avançar no ambiente bancário", ressalta Eneyda Koury, diretora do Sindicato dos Bancários de Santos e Região. "A discriminação existe, inclusive com relação a ter cargos de diretoria. E soma-se a isso, a dupla ou tripla jornada assumida por uma parte considerável das trabalhadoras. É com ela que ainda fica a maior parte das vezes a criação dos filhos, assim como a falta da divisão das tarefas do lar com seu companheiro".
Vanessa Gravino, do Sindicato dos Professores em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), diz que na escola o grande desafio é pensar uma educação não sexista. "Hoje, mesmo entre os professores, a gente tem a reprodução de uma educação sexista. O nosso grande desfio é pensar em como desconstruir esse papel. Como pensar em projetos que rompam com essa ideia heteromachista do lugar do homem e da mulher. Que leve o debate para a sala dos professores, mas também para os alunos. Dá para pensar em projetos que aliem a ideia de pais e mães estarem juntos na escola, por exemplo, porque não deve ser só a mãe a responsável pela criança."
Essas Mulheres Trabalhadoras da INTERSINDICAL
Há algum tempo o coletivo de mulheres da Intersindical está se ampliando e realizando debates que pensem novos caminhos de formação e luta para as trabalhadoras das mais diversas categorias.
Vanessa explica que o coletivo é essencial para a formação de uma central, pois "ele tem o objetivo de trazer novas formas de lutas, que sejam das trabalhadoras e dos trabalhadores, para que a gente consiga formar uma central que amplie o diálogo com a classe trabalhadora, mas, para além disso, que também leve o debate das opressões para a classe".
"E isso está no nosso cotidiano. Nas relações de trabalho é comum as mulheres receberem pela mesma função menos que os homens, ou seja, temos aí uma mais valia maior ainda em relação às trabalhadoras. E se elas são negras a situação se agrava. Quando falamos em feminismo, estamos partindo da perspectiva classista. Não dá para dissociar um movimento de trabalhadoras e trabalhadores de um movimento de opressões", conclui ela.
Fonte: Intersindical