Desigualdade econômica está fora de controle. Concentração de renda chegou a nível recorde, segundo dados do relatório “Tempo de Cuidar”, da Oxfam
A desigualdade econômica vem crescendo assustadoramente. Em 2019, apenas 2.153 indivíduos do planeta detinham mais riqueza do que 4,6 bilhões de pessoas. Os dados são do relatório Tempo de Cuidar – O trabalho de cuidado mal remunerado e não pago e a crise global da desigualdade da Oxfam, lançado no domingo, 19.
Quase metade da população do mundo luta para sobreviver com US$ 5,50 por dia ou menos, de acordo com dados recentes do Banco Mundial. Enquanto isso, os 22 homens mais ricos do mundo detêm mais riqueza do que todas as mulheres que vivem na África. Além disso, 1% dos mais ricos do mundo detém mais que o dobro da riqueza de 6,9 bilhões de pessoas, de acordo com o relatório.
Uma imensa desigualdade econômica onde extremos de riqueza coexistem com uma enorme pobreza e que se baseia em um sistema falho e sexista. O documento explica que esse modelo econômico permitiu que poucas pessoas acumulassem grande riqueza e poder – na sua maioria homens – em parte explorando o trabalho de mulheres e meninas e violando seus direitos sistematicamente.
Mulheres e a desigualdade
As mulheres são responsáveis por 75% do trabalho de cuidado não remunerado realizado no mundo. “O cuidado é alimentar, cozinhar, arrumar, cuidar da pessoa doente, da criança. Esse serviço todo é importante para a economia e não está sendo remunerado adequadamente ou, muitas vezes, não é remunerado, critica Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
Ela explica ainda que na divisão do trabalho, a mulher é aquela que cuida e o homem é aquele que traz os recursos. “Isso é antigo, mas muito presente na sociedade, em distintos países e cultura”, completa Katia.
De acordo com o relatório, meninas e mulheres dedicam 12,5 bilhões de horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado. O valor monetário global desse tipo de trabalho é de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano. Isso é três vezes mais alto que o estimado para o setor de tecnologia do mundo. Se fossem remuneradas, a contribuição para a economia global seria de, pelo menos, US$ 10,8 trilhões por ano.
Como resolver essa desigualdade econômica
A Oxfam diz que governantes de todo o mundo podem e devem construir uma economia humana, que seja feminista e beneficie os 99% e não apenas o 1% da população. “Esse seria um mundo onde todas as pessoas teriam empregos assegurados com salários decentes. Nossa economia prosperaria dentro dos limites do nosso planeta, deixando um mundo melhor a cada nova geração”, destaca o relatório.
O documento explica ainda que a economia feminista e a igualdade de gênero são fundamentais para uma economia humana. Além disso, o drástico nível de desigualdade econômica e a iminente crise de prestação de cuidado podem ser revertidos. Mas para isso serão necessários esforços conjuntos e decisões políticas ousadas para reparar os danos causados, além de criar sistemas econômicos que atendam a todas cidadãs e cidadãos.
Poupando desde a construção das pirâmides do Egito
Se uma pessoa tivesse poupado US$ 10.000 por dia desde que as pirâmides do Egito começaram a ser construídas, ela teria hoje somente um quinto da fortuna média dos cinco bilionários mais ricos do mundo.
E se todas as pessoas sentassem sobre suas riquezas empilhadas em notas de 100 dólares, a maior parte da população mundial ficaria sentada no nível do chão. Uma pessoa de classe média em um país rico ficaria sentada na altura de uma cadeira. Os dois homens mais ricos do mundo ficariam sentados no nível do espaço sideral.
Uma tributação adicional de 0,5% sobre a riqueza do 1% mais rico nos próximos 10 anos equivale aos investimentos necessários para se criar 117 milhões de empregos em educação, saúde e assistência a idosos e outros setores, e eliminar déficits de atendimento.
Fonte: Reconta aí