O comboio de ajuda internacional transportava dez mil toneladas de ajuda humanitária e tinha o objetivo de romper o bloqueio sofrido pela Faixa de Gaza.
Soldados israelenses atacaram na madrugada desta segunda-feira(31) a chamada “Flotilha da Liberdade”, um grupo de seis navios que transporta mais de 750 pessoas com ajuda humanitária para a Faixa de Gaza, deixando ao menos 19 mortos e 36 feridos, segundo o Canal 10 da televisão israelense.
A imprensa da Turquia mostrou imagens captadas dentro do navio turco Mavi Marmara, nas quais se viam os soldados israelenses abrindo fogo. Em contato telefônico ao vivo com os navios, membros do comboio humanitário, que é formado em sua maioria por ativistas turcos, informaram que os comandos israelenses abordaram os navios, dispararam com fogo real para reprimir os tripulantes, apesar de estes terem mostrado bandeiras brancas.
O comboio de ajuda internacional é composto por seis navios, três deles turcos, e transporta dez mil toneladas de ajuda humanitária, com o objetivo de romper o bloqueio sofrido pela Faixa de Gaza.
Segundo a mídia turca, o ataque aconteceu em águas internacionais por volta das 4h (horário local, 22h de Brasília do domingo). As autoridades turcas tentaram entrar em contato com o navio Mavi Marmara, mas não conseguiu. Os canais de televisão turcos mostraram imagens ao vivo do ataque até as 5h local, mas então a conexão foi interrompida.
Imagens da TV turca feitas a bordo do barco turco que liderava a frota mostram soldados israelenses lutando para controlar os passageiros. As imagens mostram algumas pessoas, aparentemente feridas, deitadas no chão. O som de tiros pode ser ouvido.
A TV Al-Jazeera, do Catar, relatou, da mesma embarcação, que as forças da Marinha israelense haviam disparado e abordado o barco, ferindo o capitão. A transmissão das imagens pela Al-Jazeera foi encerrada com uma voz gritando em hebraico: “Todo mundo cale a boca!”.
O Ministério de Assuntos Exteriores da Turquia tentou ligar para Israel várias vezes desde a partida da frota desde a Turquia para pedir que não interferisse em seu objetivo. Agora se espera que a diplomacia turca dê uma resposta e se abra um novo capítulo nas críticas relações entre Turquia e Israel, que ficaram abaladas desde o ataque israelense à Faixa de Gaza entre 2008 e 2009.
Em Istambul, centenas de pessoas se concentraram na frente do Consulado de Israel e tentaram entrar nele, mas foram impedidos pela polícia.
Posição de Israel
“Certamente lamentamos as vítimas, mas a responsabilidade pelas vítimas é deles, daqueles que atacaram os soldados israelenses”, assinalou o número dois do Ministério de Exteriores israelense, Daniel Ayalon – do mesmo partido do chanceler Avigdor Lieberman – em entrevista coletiva do Ministério de Exteriores em Jerusalém.
Em comunicado, o Exército israelense assegura que dois “ativistas violentos sacaram os revólveres” de suas tropas “e aparentemente abriram fogo contra os soldados, como provam os cartuchos vazios dos revólveres”.
Na entrevista coletiva, Ayalon disse que seu país “fez todo o possível para deter” a frota, mas seus integrantes “responderam inclusive com armas”. “Nenhum país soberano toleraria essa violência”.
Além disso, ele assegurou que “os organizadores” – em referência à ONG turca IHH, um dos diversos grupos que participavam da iniciativa – tem “estreitos laços” com “organizações terroristas internacionais”, como a rede Al Qaeda.
Ayalon pediu que “todos os países trabalhem juntos para acalmar a situação” e que não sejam “pessimistas demais” sobre as consequências que possa ter a operação nas relações diplomáticas de Israel com outros Estados.
Repercussão
Ismail Haniya, chefe de governo em Gaza e líder do Hamas, convocou os palestinos ao redor do mundo a protestar contra o ataque israelense. “O governo decidiu nomear o dia 31 de maio como o ‘dia da liberdade’. Exigimos que a Liga Árabe haja para impedir o cerco a Gaza”, afirmou Haniya.
“Dizemos a esses heróis que a essência de seu sangue chegou a nós antes do que a ajuda prometida”, concluiu.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, convocou uma reunião de emergência para amanhã (01/6), no Cairo. “O ataque claramente demonstra a natureza agressiva de Israel e seu desrespeito com as leis e regras internacionais”.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto nos territórios palestinos. “O que Israel cometeu contra os ativistas da ‘Frota da Liberdade’ é um massacre”, disse Abbas.
Um dos principais assessores de Abbas, o chefe negociador palestino Saeb Erekat, qualificou o fato de “crime de guerra” que “confirma que Israel age como um Estado acima da lei”. Ele pediu uma resposta “rápida e apropriada” da comunidade internacional.
“Eram embarcações civis, que levavam civis e bens civis – remédios, cadeiras de rodas, comida, materiais de construção – para os 1,5 milhão de palestinos fechados por Israel. Muitos pagaram com suas vidas. O que Israel faz em Gaza é horrível, nenhum ser humano esclarecido e decente pode dizer algo diferente”, apontou Erekat.
O ministro de Exteriores francês, Bernard Kouchner, condenou o ataque israelense. Após declarar-se “profundamente” horrorizado pelas trágicas consequências da operação, o chefe da diplomacia francesa expressou condolências às famílias e amigos das vítimas.
“Não entendemos o balanço humano, ainda provisório, dessa operação contra uma iniciativa humanitária conhecida há vários dias”, acrescentou.
Fonte: w