A financeirização do mundo está aumentando o número de bilionários, a desigualdade e a miséria no mundo
O bilionário Elon Musk, que decidiu afrontar o Judiciário e agora o governo brasileiro tem uma fortuna estimada em US$ 243,7 bilhões, o que dá inacreditáveis R$ 1.373.785.888.574,00, um trilhão, 373 bilhões, 785 milhões, 888 mil e 574 reais.
Se a fortuna de Elon Musk fosse convertida para Produto Interno Bruto (PIB), ela se transformaria na 49ª maior economia do mundo – superaria países como Portugal, Nova Zelândia, Peru e Grécia. [O Globo]
Tudo o que esses países produzem em um ano vale menos que a fortuna de um homem de 53 anos de idade. Ele é atualmente o símbolo dessa gente tão diferente de nós, que vivemos de contar dinheiro para tudo, e que já teve como número 1 o dono da Amazon, Jeff Bezos.
O Brasil tem alguns bilionários, que conseguiram juntar sua fortuna tornando nosso país um dos mais desiguais do planeta.
Uma fortuna que se automultiplica, tal o poder do dinheiro. Musk, por exemplo, há um tempo comprou uma quantidade incrível de criptomoedas e anunciou ao mundo a aquisição. Logo, as criptomoedas se valorizaram loucamente, e Musk tratou de vender as que tinha, com lucro fabuloso, aumentando ainda mais sua fortuna e, ao mesmo tempo, fazendo despencar o valor das criptomoedas. Sozinhos, por suas ações, fazem balançar as Bolsas.
Isso me lembra nosso ex-bilionário Eike Batista, que chegou ao ser o sexto homem mais rico do mundo e viu sua fortuna virar pó, e, destino que talvez seja único entre os bilionários, puxou uma temporada na cadeia e agora busca sua recuperação. Não me surpreenderia muito se ele em pouco tempo surgir entre os bilionários novamente.
Porque eles, os bilionários, formam uma casta diferente da humanidade. Eles podem mentir, saquear, espoliar, patrocinar golpes de Estado, guerras sangrentas, e a tudo isso se dará na grande imprensa o nome de empreendedorismo.
Eles são invejados, endeusados, sem que se faça a ligação direta entre a fortuna que acumulam e a miséria que espalham com a financeirização da vida no planeta.
Virou comum hoje na imprensa lermos que o bilionário tal ficou 10, 20, 40 bilhões de dólares mais pobre, ou rico, de um dia para outro. Eles não têm nem a noção do que é isso, porque os valores que possuem são tão altos que não têm como mensurar —inclusive porque são voláteis (como Eike Batista provou).
É como se me avisassem pela imprensa que estou namorando a Scarlett Johansson num dia e alguns dias depois que não estava mais, sem que eu nem ao menos a conhecesse —a não ser das telas. Nada houve entre nós dois, mas no meu currículo estaria lá o namoro.
No entanto, se é volátil o capital dos bilionários, a miséria, as doenças e as mortes causadas por eles são reais, cotidianas e cruéis.
Relatório de 2021 da ONG Oxfam informa que onze pessoas morrem de fome a cada minuto no mundo. São quase 16 mil mortos de fome por dia, num planeta com terras fartas e férteis, que alimentaria nababescamente todo mundo.
A financeirização do mundo, a miséria e a morte
Incrível que não se faça a ligação direta entre essas mortes e a fortuna crescente dos bilionários, mesmo em meio à pandemia, que empobreceu a todos —inclusive estados e países—, menos os bilionários, que ficaram mais ricos.
A financeirização do mundo e a perda de valor das coisas tangíveis faz com que já não sejam necessárias novas fábricas seja do que for, pois o dinheiro se multiplica por dinheiro, e assim eliminam-se postos de trabalho, custos de produção, privatizam-se educação, saúde, tudo em benefício do capital financeiro e seus bilionários.
Não interessa quais sejam os problemas de um país, a solução será sempre a mesma —aumento dos juros, o que aumenta paradoxalmente a miséria dos endividados ou sem renda e a fortuna dos mais ricos.
Até quando essa roda seguirá girando desse modo? Haverá um ponto de ruptura? Certamente. Como isso se dará?
Nosso grande geógrafo Josué de Castro escreveu que “Haverá um dia em que os pobres morrerão de fome e os ricos, de medo”.
Esse dia ainda não chegou e prova isso a arrogância impune de um Elon Musk, que confirmou no Twitter sua participação no golpe de Estado na Bolívia e disse que daria golpes sempre que fosse de seu interesse e que deveríamos nos acostumar com isso.
Escrevi dois livros de ficção tendo os bilionários como tema: um, inspirado na frase de Josué de Castro, “A Fome e o Medo” (1999); e outro, onde uma organização decide exterminar todos os bilionários do planeta, “ELA” (2020). Ambos frutos da mesma perplexidade e indignação.
Antonio Melo