Essas Mulheres Trabalhadoras da Intersindical
Às vésperas do 08 de março, dia internacional de luta das mulheres, lembramos o histórico de luta e resistência das mulheres por todo o mundo, especialmente as operárias russas que foram às ruas contra a fome, a guerra e a tirania, sendo estopim da Revolução Russa. Anos mais tarde, Clara Zetkin torna este dia a referência de luta das mulheres socialistas, no Congresso Internacional das Mulheres Socialistas em 1921, em Copenhague.
Seguimos nas ruas e as ocuparemos novamente neste 08 de março para reafirmar que a luta feminista e socialista segue atual e necessária. Um dos embates é contra a ideia de que o feminismo e suas reivindicações estariam superados, que as mulheres já estão no mercado de trabalho e, até mesmo, na Presidência da República. Acreditamos que não basta ser mulher, é preciso defender e estar ao lado das mulheres trabalhadoras. Algo que está bem distante da realidade do governo Dilma que, após o acirramento das eleições presidenciais, tem se submetido ainda mais aos interesses do capital financeiro e às pressões do conservadorismo. As indicações de Joaquim Levy e Kátia Abreu demonstram essa escolha e a palavra de ordem do governo é ajuste fiscal. Corte de benefícios sociais e direitos previdenciários (MPs 664 e 665) representam que o compromisso é com os de cima. Nossa luta é para que as mulheres trabalhadoras não paguem pela crise. Derrotar a política de ajustes é fundamental. Assim como derrotar o PL 4330, que avança ainda mais na flexibilização da terceirização, suprimindo direitos do conjunto da classe trabalhadora.
Nossa luta é por direitos! É pelo direito que uma mãe trabalhadora tem de saber que enquanto está no seu local de trabalho seu filho está em uma creche sendo bem cuidado. É a favor das trabalhadoras terceirizadas que diariamente veem os seus direitos diminuídos e desrespeitados por empresas que lucram em cima da precarização das condições de trabalho. É pelos direitos daquelas mulheres que recorrem à economia informal como alternativa ao mercado de trabalho que de maneira silenciosa é totalmente excludente. É em defesa daquelas que sofrem com o assédio (sexual, moral, psicológico) nos seus locais de trabalho. E por que lutamos? Porque queremos uma sociedade em que a inclusão alcance todas as mulheres, sejam elas negras, brancas, indígenas, moradora das grandes cidades, da periferia ou do campo. Pois acreditamos que somos diferentes sim, mas não aceitamos ser tratadas de maneira desigual.
Mas o machismo e a desigualdade seguem fortes, presentes ideologicamente e deixando marcas na vida e no corpo das mulheres. A violência contra as mulheres ainda é gritante, responsável por uma realidade de medo e humilhação. A pesar da aprovação da Lei Maria da Penha, que representou um avanço jurídico importante, é preciso condições para implementação da lei com recursos e ações efetivas para combater a violência sexista. A violência contra a mulher ainda é vista como algo natural, comum e trivial. A cultura do estupro segue presente, como prática na Faculdade de Medicina da USP e no discurso conservador de Bolsonaro no Congresso Nacional.
A cobertura dada pela imprensa espetaculariza a violência e, ao mesmo tempo, reforça essa trivialidade. Além dos instrumentos legais, é preciso avançar na consciência da população, combatendo toda e qualquer expressão do machismo. Afinal, é o machismo a única causa desse tipo de violência. É a ideologia machista que vê a mulher com inferioridade, como coisa, subalterna, submissa, sem condições para fazer escolhas e participar da política, sem independência e autonomia para viver sua sexualidade e decidir acerca de seu corpo. A violência contra a mulher é o machismo em movimento, que fere e mata mulheres diariamente. Também lutamos contra a repressão policial e o genocídio da juventude negra e da periferia. Nossa luta é contra a violência, a banalização e o silêncio.
Lutamos pelo Estado laico, para que os direitos e as políticas públicas não sejam ditados por interesses de grupos religiosos. Respeitamos a opção de fé de cada cidadão, inclusive a opção de não ter fé alguma. Entretanto, grupos fundamentalistas, vêm se empenhando em perseguir e criminalizar as mulheres que realizam a prática do aborto. Recentemente, Eduardo Cunha, presidente da Câmara, afirmou que a proposta de legalização do aborto só seria aprovada “por cima de seu cadáver” sendo porta voz do conservadorismo que persegue as mulheres. Ele tem usado da prerrogativa de presidente para acelerar a tramitação de projetos que retrocedem nos direitos das mulheres e violam a laicidade do Estado, como o Estatuto da Família, Dia do orgulho heterossexual, dentre outros. Lutamos contra esse retrocesso e pelo direito à maternidade voluntária! A legalização do aborto deve ser debatida sem hipocrisia e pela ótica dos direitos da mulheres.
Temos muito a reivindicar e estamos nas ruas para dizer que sem feminismo não há transformação dessa sociedade. Não há luta por liberdade, por justiça, por uma sociedade socialista se as mulheres seguem exploradas e oprimidas.
Tomemos as ruas no 08 de março, por direitos, autonomia e contra o ajuste e conservadorismo!
Fonte: Essas Mulheres Trabalhadoras da Intersindical