Alguns dos maiores bancos de varejo do País ‘empurram’ para os clientes pacotes de tarifas mais caros do que o perfil do correntista sugere. É o que revela uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), obtida com exclusividade pelo ‘Estado’.
No caso do Santander, por exemplo, essa disparidade significou um acréscimo de 69% no pacote (R$ 33,60, ante R$ 19,90). No HSBC, o plano contratado custou 53% a mais do que o indicado para o perfil do cliente (R$ 37,50 em vez de R$ 24,50).
No início de dezembro de 2011, seis pesquisadores do Idec foram a agências dos maiores bancos de varejo do País – Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander e HSBC – para abrir contas correntes. Todos foram orientados a descrever para o funcionário um perfil que se adequasse a pacotes com valores entre os mais baixos de cada instituição.
“Repetimos uma pesquisa que já havíamos feito em 2008, logo após o Banco Central implementar a nova regulamentação para o tema, e a conclusão é que não houve melhora de lá para cá”, afirmou a gerente jurídica do Idec, Maria Elisa Novais. Ela observa que mesmo os bancos que acabaram oferecendo o custo-benefício adequado para o cliente relutaram em fazê-lo. “Em geral, eles não dão a melhor opção ao consumidor.”
Encaixam-se nesse caso descrito pela advogada o Itaú e a Caixa. Em ambos, o pesquisador do instituto conseguiu ‘comprar’ o pacote oferecido, mas só depois de muita negociação. Na Caixa, o pesquisador ficou com o plano Caixa Fácil, que custa R$ 9,80 por mês. No Itaú, foi escolhido o Maxi Conta Itaú Econômica, ao custo mensal de R$ 11,80.
Apenas dois bancos apontaram de imediato planos mais adequados ao perfil do cliente: Banco do Brasil e Bradesco. No primeiro, o pacote buscado pelo pesquisador era até mais caro do que o sugerido pelo banco – R$ 19,70 em vez de R$ 27,90. No segundo, o plano ‘vendido’ custa R$ 19,55, abaixo dos R$ 22,40 do plano que o pesquisador procurava.
Falhas
Na avaliação do Idec, o problema mais grave foi o do Santander. “O atendente do banco disse que o cliente (pesquisador) não podia contratar o pacote que queria porque tinha uma renda muito alta para aquele plano”, comentou Maria Elisa. “Mas isso não está em nenhuma regulamentação do Banco Central.”
Em nota, o Santander afirma que “o caso apontado é pontual e não traduz a realidade”. O banco diz ainda que “preza pela qualidade de seus serviços e produtos e o respeito ao consumidor, e desenvolve permanentemente programa de comunicação e treinamento dos seus colaboradores em relação às práticas ‘consumeiristas'”.
No HSBC, o sistema tecnológico enquadrou automaticamente o pesquisador do Idec em um pacote mais caro do que o sugerido. Segundo o relato do instituto, o funcionário chegou a dizer ao pesquisador que daria um “jeitinho”. Informou que, após a contratação, alteraria para um plano mais barato, o que não ocorreu até o momento.
Também em nota, o HSBC informa que “orienta seus gerentes a apresentar ao cliente a relação de pacotes de serviços disponíveis, inclusive a opção pelos serviços essenciais, livres de tarifação”. Ainda segundo o banco, “uma oferta que eventualmente não esteja enquadrada no perfil do cliente pode ocorrer em razão de falha pontual”.
Fonte: O Estado de S.Paulo