O último grande nome da gestão de Fabio Barbosa à frente do Santander Brasil está de saída do banco. José de Menezes Berenguer Neto, vice-presidente responsável pelas operações de varejo, vai para a Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, conforme noticiado pela agência “Bloomberg” na semana passada. Sua tarefa na casa nova será montar uma área de fundos de créditos privados, apurou o Valor.
Depois de manter Barbosa no comando da operação brasileira por três anos, até dezembro de 2010, agora, cada vez mais o banco assume a cara de seu controlador espanhol, deixando para trás características do ABN Amro Real, adquirido em 2007. Na ocasião da compra, surpreendeu a decisão de Emílio Botín, controlador do Santander, de escolher Barbosa, que presidia o ABN. Berenguer sempre foi um dos executivos mais ligados a Barbosa, e chegou a ser cotado como o principal candidato para sucedê-lo na presidência. Cargo que acabou ocupado pelo espanhol Marcial Portela.
Apesar de o Santander não confirmar as mudanças, tanto a saída de Berenguer quanto o nome de seu sucessor devem ser anunciados nos próximos dias. Dentro do banco, o assunto está restrito a Portela, presidente do Santander Brasil, e à matriz do banco, em Boadilla del Monte, nos arredores de Madri. E o clima entre executivos locais é de especulações.
Na semana passada, o Santander aprovou em reunião do conselho de administração a chegada de um novo vice-presidente, o espanhol Juan Manuel Hoyos, que por 30 anos trabalhou na consultoria McKinsey e que depois começou a desenvolver projetos para o banco espanhol. Em comunicado para os funcionários, o Santander afirmou que o executivo terá como foco a área de estratégia. Muitos enxergaram nessa indicação um sinal.
Entre suas missões no Brasil, Hoyos terá que lidar bastante com o varejo do banco, ainda arranhado com os problemas que o Santander enfrentou na integração com o Real. Mesmo antes de assumir o cargo, o executivo já estava responsável por um projeto bastante ligado ao varejo brasileiro, lançado em julho do ano passado. É o “Santander 3.1”, que tem como meta transformar o Santander no primeiro banco dos seus clientes em três anos.
Hoje, da base de 9 milhões de correntistas pessoas físicas ativas que o banco tem, apenas 3,5 milhões são clientes que possuem um relacionamento mais estreito com o Santander, com pacote de tarifas, cheque especial e cartão. Em três anos, a expectativa é alcançar 10 milhões de pessoas com contas ativas, sendo que 5 milhões usariam mais os serviços da instituição, conforme plano divulgado no ano passado.
É inegável que a presença espanhola vem crescendo dentro do banco desde 2009, ano da bilionária oferta de ações do Santander. Naquela época, a alta cúpula do banco – diretoria mais presidência – era composta por 53 pessoas, sendo que havia 4 espanhóis. Hoje, são 51 postos, sendo sete deles ocupados por espanhóis.
Para a vice-presidência do banco, chegaram Ignacio Dominguez-Adame, que entrou no atacado um ano atrás, e Angel Agallano, responsável por tecnologia.
Os espanhóis estão tomando as rédeas de uma operação que no ano passado foi responsável por 28% – ou R$ 7,7 bilhões – do lucro líquido global. Mas, ao mesmo tempo, outros brasileiros, ainda da era Barbosa, estão ascendendo na instituição. Em dezembro, três diretores do Santander foram promovidos a vice-presidentes: João Guilherme Consiglio (negócios), Luis Félix Cardamone (financiamento ao consumo) e Pedro Carlos Coutinho (agências).
Além de validar esses novos nomes na alta cúpula, no dia 21 de dezembro, o conselho do banco também decidiu adiar o pagamento do bônus de seus executivos neste ano. Procurado pela reportagem para comentar as mudanças em andamento, o Santander não se posicionou até o fechamento desta edição.
Quando Portela assumiu o banco, propôs aos dois vice-presidentes na época, de atacado e varejo, que invertessem suas posições. Berenguer, que tocava todo o atacado, tendo feito sua carreira nessa área, aceitou o desafio de comandar o varejo. Mas José Paiva, que respondia pelo varejo, não aceitou fazer o caminho inverso, e acabou deixando o Santander.
Em dezembro, Portela concedeu entrevista ao Valor na qual comentou sobre o futuro de Berenguer na organização. Questionado se poderia se pensar que o executivo vinha sendo preparado para ascender à presidência, Marcial Portela disse: “Diria que não dá para pensar, mas poderia ser. Visto de fora as interpretações estão longe da realidade. (…) Berenguer pode ser uma pessoa para a sucessão? Pode ser. Tem muitas características, mas não tem nada a ver [o fato de ele estar à frente do varejo].”
Fonte: Valor Econômico