O Banco do Brasil colhe os primeiros resultados de seu processo de internacionalização, que ganhou mais força nos últimos dois anos. A participação dos lucros do banco vindo das operações no exterior já corresponde a 3,68% do total registrado pela instituição em 2011, até o fim do terceiro trimestre. Em 2009, essa parcela era equivalente a 0,24%, segundo dados da instituição.
O crescimento, pondera Allan Toledo, vice-presidente do BB, ocorreu mesmo com o banco mantendo a expansão em território nacional. Em números absolutos, o lucro líquido obtido no exterior partiu praticamente do zero em 2009, para a casa dos US$ 170 milhões neste ano, até o terceiro trimestre, enquanto o banco como um todo lucrou R$ 9,2 bilhões no ano até agora, uma alta de 25% em doze meses.
A meta é continuar a expansão e atingir 9% do resultado total com as unidades externas em cinco anos. Neste trimestre, o número já representará 4% do total, acredita Toledo. Para chegar a esse objetivo, o banco conta com as operações de crédito para as empresas brasileiras. Essa é a grande diferença em relação à estratégia anterior.
O BB está no exterior há 70 anos, mas a função primordial sempre foi a captação de recursos em moeda estrangeira e o atendimento do cliente pessoa física. Com a crescente expansão das companhias brasileiras no exterior, o BB viu uma oportunidade de rentabilizar suas agências lá fora. “O crescimento internacional é amplamente atrelado ao atendimento das empresas brasileiras no exterior ou de companhias que detêm forte relacionamento comercial com o Brasil”, diz Toledo.
O crédito decorrente das operações feitas exclusivamente lá fora chegou a US$ 17,4 bilhões, uma alta de 36% nos últimos dois anos. Somando os ativos captados no exterior, mas que são usados para as linhas de comércio exterior, como adiantamento de contrato de câmbio (ACC) e pré-pagamento de exportações – cujos resultados são apurados no Brasil – os empréstimos superam US$ 30 bilhões.
Como consequência direta dessa atuação, a captação de recursos do banco também cresceu 50% em dois anos e já representa 7% do total da instituição – US$ 38,6 bilhões, em 2011 até setembro. A crise ajudou, pois houve uma migração de operações que eram feitas com bancos estrangeiros e passaram para o BB.
A reestruturação das operações que o banco já tinha no exterior se somou às aquisições, como a do Patagonia, na Argentina, e do Eurobank, nos Estados Unidos – essa última aguarda autorização do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos); a primeira autorização, do regulador local da Flórida, já foi concedida.
O Banco Central brasileiro também autorizou o BB a transformar seu escritório de representação na China em agência, dependendo ainda de aprovação do BC chinês. Com resultado, o BB estará em 25 países.
Sobre a manutenção do plano de expansão, Toledo responde que o banco “continua analisando” oportunidades, mas reafirma o interesse apenas pela América do Sul. “Estamos avaliando ativos na América do Sul, dentro da nossa estratégia de atender as empresas brasileiras lá fora e também de fomentar o comércio exterior”
Segundo ele, o banco tem olhado para ativos em Chile, Colômbia, Peru e Equador, mas “não tem pressa para fazer negócios”. O modelo a ser replicado é o argentino. “Buscamos um banco médio, bem posicionado e que tenha possibilidade de crescer, com rede de distribuição e captação já estruturadas”, afirma.
O banco argentino é um dos destaques e já responde por quase 20% do lucro obtido lá fora. Em pouco mais de um ano de operação sob comando do BB, a instituição já mantém operações com 80% das cerca de 400 companhias brasileiras que atuam no país.
O BB manteve todos os postos executivos sob o comando de argentinos, nomeando apenas dois vice-presidentes brasileiros. O BB não acredita em expansão sem a força de trabalho de pessoas que de fato conheçam o mercado, diz Toledo. Mas pelo menos uma vez por mês ele visita a operação no país vizinho.
Já o plano de expansão para a África, em parceria com o Banco Espirito Santo (BES) saiu do foco. Toledo não quis comentar o assunto, mas segundo o Valor apurou com fontes do banco, a crise europeia e a situação dos bancos europeus dificultam a análise do negócio nesse momento. E o BB considera essencial entrar em um novo mercado por meio de uma aquisição.
Fonte: Valor Econômico