Pesquisa entre empresas britânicas que experimentam modalidade aponta aumento de produtividade, retenção de talentos e bom clima entre funcionários
Jornada de trabalho de quatro dias por semana, sem impacto no salário: a medida que, até pouco tempo, parecia impossível passou no teste — ao menos no Reino Unido.
O projeto “The 4-Day Week Global” (quatro dias por semana, em tradução livre) experimenta, desde junho, a modalidade de jornada que envolve 3.330 funcionários de 73 empresas com atuação no Reino Unido. Nela, o profissional recebe 100% do salário, trabalhando 80% do tempo em troca de um compromisso de manter 100% de produtividade, um modelo que ficou conhecido como 100-80-100.
Sondagem recente realizada pelo “The 4-Day Week Global” junto aos funcionários e empresas mostram que o modelo tem obtido grande aderência no teste e será incorporado de forma definitiva nas corporações.
Dentre as 73 empresas participantes da pesquisa, 41 delas responderam ao estudo preliminar. Sobre o nível de produtividade dos profissionais, 95% das companhias afirmaram que o nível foi mantido ou melhorado. Sendo que: 46% disseram que a produtividade de seus negócios “se manteve no mesmo nível”; 34% relatam que “melhorou um pouco” e 15% afirmaram que “melhorou significativamente.
A maioria dos entrevistados (88%) relataram que a semana de quatro dias está funcionando “bem” para seus negócios nesta fase de teste. Sobre a manutenção do formato, após o término dos testes em dezembro, 86% dos entrevistados disseram que é “extremamente provável” e/ou “provável” que vão manter os quatro dias de trabalho por semana.
Em relação ao quão suave foi a transição para uma semana de quatro dias (com 5 sendo ‘extremamente suave’ e ‘1’ sendo ‘extremamente desafiador’): 29% dos entrevistados selecionaram a nota ‘5’, 49% selecionaram ‘4’ e 20 % selecionado ‘3’.
O “The 4-Day Week Global”, que será testado até dezembro, conta com apoio da consultoria global Autonomy, além de auxílio de pesquisadores da Universidade de Cambridge, Universidade de Oxford e da Boston College. Diversas iniciativas semelhantes já foram replicadas nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia e na África do Sul. A Espanha também anunciou a medida de redução de carga de trabalho no ano passado.
Futuro do trabalho?
Joe O’Connor, CEO do projeto, afirma que a semana de quatro dias busca desenvolver as bases para o futuro do trabalho, em todos os tamanhos de negócios e em quase todos os setores.
Claire Daniels, CEO da Trio Media, agência de marketing e uma das empresas participantes, afirma que a modalidade sob teste foi extremamente bem-sucedida. “A produtividade permaneceu alta, com um aumento no bem-estar da equipe, juntamente com um desempenho financeiro 44% melhor”.
Sharon Platts, head de recursos humanos do grupo Outcomes First, empresa que atende e dá assistência para jovens e adultos com autismo e outras necessidades, acrescenta que a a semana de quatro dias tem sido transformadora.
“Estamos muito satisfeitos em ver o aumento da produtividade e da produção. Também conseguimos fazer o formato funcionar em nossos serviços de educação, que pensamos que seriam muito mais desafiadores. Embora ainda seja cedo, nossa confiança em continuar no formato depois do teste está crescendo, e o impacto no bem-estar dos profissionais tem sido observado.”
O resultado preliminar não colheu dados das empresas que estão tendo algum tipo de dificuldade ou crítica ao formato, mas O’Connor ressalta que, para algumas empresas, sobretudo as que possuem culturas mais conservadoras, são menos flexíveis e têm líderes mais velhos, a nova prática tem exigido mais esforço.
“Embora, para a maioria das organizações, o projeto-piloto leve a descobertas e resultados positivos, há atrito para outras companhias, e isso pode ser baseado em uma variedade de fatores. Estamos avaliando quais deles podem ser abordados ou melhorados no próprio piloto. A “4 Day Week Global” e os parceiros estão apoiando essas empresas para facilitar sua transição para um modelo de trabalho flexível e usando as descobertas para informar o processo para muitas outras empresas testarem, adaptarem e colherem os benefícios de enfatizar a produtividade ao longo do tempo”, explica o CEO do projeto.
E no Brasil?
As poucas empresas brasileiras que passaram a adotar esse formato de 32 horas semanais de trabalho estão registrando melhorias de eficiência e até aumento de receitas. Por ora, a mudança tem sido adotada com mais força pelas companhias de tecnologia ou startups, como Zee.Dog, Crawly, NovaHaus, Winnin, AAA Inovação, Gerencianet e Eva Benefícios.
A Zee.Dog começou a testar uma semana de trabalho com quatro dias sem redução de salário em fevereiro de 2020. A chegada da pandemia interrompeu os testes, e o projeto foi retomado um ano depois, em fevereiro de 2021. A empresa adotou a quarta-feira livre após comparações com o exterior.
A ideia de redução de jornada é focar na produtividade e ter mais tempo de bem-estar. Além disso, a semana de quatro dias de trabalho tem se mostrado uma boa estratégia para retenção de talentos.
Num cenário de mercado aquecido em que sobram vagas e faltam profissionais em vários setores, ao oferecer um dia a mais de descanso como benefício, as empresas conseguem disputar mão de obra com companhias estrangeiras que têm salários maiores.
Na empresa de produtos digitais NovaHaus, por exemplo, a redução da jornada já teve impacto nos custos, com aumento de receitas.
Os funcionários da Eva Benefícios já estão há pouco mais de dois meses vivendo a experiência de ter a sexta-feira livre dentro dessa jornada de 32 horas semanais. Os testes vão até o início do ano que vem e, depois, será avaliado se o formato será mantido.
Fonte: Infomoney
Escrito por: Giovanna Sutto