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Alta da taxa Selic beneficia poupadores ricos, mas não ajuda os mais pobres

17 de junho de 2022

Investidores com aplicações mais sofisticadas lucram com juros, enquanto rendimento da poupança perde para a inflação

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 15, mais um aumento na taxa básica de juros da economia brasileira. A chamada taxa Selic subiu 0,5 ponto percentual e chegou a 13,25% ao ano – maior patamar desde 2017.

 

A decisão visa conter a alta da inflação, mas tende a desestimular o crescimento da economia, que já é baixo há anos. Isso deve dificultar a geração de empregos e comprometer a renda do trabalhador.

 

Apesar disso, para alguns poucos brasileiros, a elevação da Selic é uma boa notícia. Vai colaborar, inclusive, para que eles ganhem mais dinheiro, enquanto a população sofre com as consequências da decisão do Copom.

 

Estes brasileiros – a maioria deles ricos – têm recursos aplicados em fundos de investimentos, títulos de crédito bancário ou títulos da dívida pública. O rendimento desse tipo de aplicação é influenciado pela Selic. Por isso, tende a subir com a alta da taxa básica de juros.

 

Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), menos de 10% da população têm investimentos desse tipo, que renderão mais após a decisão do Copom.

 

A grande maioria dos brasileiros sequer tem dinheiro investido em bancos ou títulos. Eles representam 61% do total, segundo a Anbima.

 

Já 23% da população mantêm o que conseguiu guardar em cadernetas de poupança, justamente o tipo de investimento bancário que não ganha com a alta dos juros.

 

Perdendo para inflação

O rendimento das cadernetas de poupança é praticamente fixo: 0,5% ao mês ou 6,17% ao ano, mais correção pela chamada Taxa Referencial (TR), que chegou a 0,43% no acumulado dos últimos 12 meses.

 

Desde 2012, quando a taxa básica de juros cai para menos de 8,5% ao ano, o rendimento da poupança também cai. Passa a ser de 70% da taxa Selic, mais a TR.

 

Acontece que, quando a Selic sobe acima de 8,5%, como agora, o rendimento da poupança não acompanha. Isso coloca um limite de ganho para aplicação da maior parte dos brasileiros.

 

Sem acompanhar a Selic, a poupança acaba “perdendo” para a inflação quando os preços passam a subir muito. Em maio, por exemplo, a inflação anual no país chegou a 11,73%. Isso quer dizer que quem colocou dinheiro na poupança por um ano, “perdeu” cerca 5% do investido por conta da redução do poder de compra causado pela inflação.

 

Essa perda, porém, não acontece com quem aplica seu dinheiro num Certificado de Crédito Bancário, o chamado CDB. Essa aplicação tem rendimento bem próximo ao do percentual da taxa Selic. Seu ganho deve subir com a decisão do Copom.

 

“Para quem tem pouco dinheiro no Brasil, há um teto de quanto seu investimento pode render. Agora, para quem é bacana, tem um carrão e está cheio de dinheiro para aplicar, o gerente do banco estende um tapete vermelho e paga o dobro da poupança”, criticou o ex-banqueiro Eduardo Moreira, em seu programa no YouTube.

 

“Toda vez que o Copom joga a taxa de juros para cima, pessoas que têm dinheiro e aplicam esses recursos se beneficiam disso e ganham mais”, complementou o economista Sergio Mendonça, ex-diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). “É um efeito imediato: eleva-se o patrimônio desses clientes.”

 

Prejuízos ao resto

Mendonça ratificou que poupadores mais pobres, que geralmente aplicam na cadernetas de poupança, nada ganham com a alta da Selic. Lembrou que eles serão, inclusive, os maiores prejudicados com os juros.

 

Ele alertou que a elevação deve causar desemprego, o qual atinge primeiro os trabalhadores menos qualificados. Também deve elevar o custo dos crediários, dificultando compras e desacelerando a economia.

Fonte: Brasil de Fato
Escrito por: Vinicius Konchinski

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