Novo medicamento desenvolvido pela estatal paulista pode ser a primeira forma de tratamento após o contágio pelo vírus com chances reais de alcançar eficácia cientificamente comprovada
Após obter autorização da Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), recebida no dia 15, o Instituto Butantan prepara-se para iniciar a fase de testes em humanos do seu soro anti-covid. Não foi divulgada a data para início dos testes. Trata-se da primeira forma de tratamento após o contágio pelo vírus com chances reais de alcançar eficácia cientificamente comprovada.
Segundo o instituto, as análises serão realizadas em três fases, em um modelo similar ao que cientistas de todo o mundo submeteram as vacinas contra a covid-19. Os ensaios serão realizados em pacientes do Hospital do Rim e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, ambos na capital paulista. O novo medicamento tem como objetivo principal o tratamento de pacientes imunossuprimidos, como transplantados e pacientes oncológicos, infectados com a covid-19. Neste grupo, a taxa de mortalidade do vírus pode chegar a 65%.
“A expectativa é que esse soro anti-covid, uma vez administrado nos pacientes que podem desenvolver complicações, neutralize o vírus e reduza o risco de a pessoa apresentar sintomas graves”, afirma a gerente de produção do Núcleo de Produção de Soros do Butantan, Fan Hui Wen. Nas duas primeiras fases de testes, serão avaliados fatores como a segurança, eficácia e escalonamento de doses. Já na terceira fase, avalia-se a eficácia geral para buscar, enfim, aprovação para aplicação em larga escala.
Papel animal
Antes de chegar à fase de testes em humanos, o projeto do novo medicamento pelo Butantan passou pela aplicação do novo medicamento em cavalos, uma técnica utilizada em todo o mundo e na qual o instituto paulista é uma das grandes referências.
“Há um agente muito importante na produção de qualquer soro hiperimune: o cavalo. É por meio da aplicação do antígeno nesse animal que é possível obter um soro rico em anticorpos e capaz de combater a doença. A gente faz todos os testes de controle para termos certeza de que esse vírus está inativo. Então não tem nenhum risco para os animais, nem para os operadores ou para a população que venha a precisar desse soro”, explica o diretor de produção do Butantan, Ricardo Oliveira.
O projeto do soro anti-covid envolve servidores públicos do Butantan de diferentes áreas de atuação, assim como foi o desenvolvimento da vacina CoronaVac, realizada de forma rápida e eficaz, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. O imunizante teve efetividade largamente comprovada pelos bons resultados nas fases de testes e também em aplicação no mundo real.
Ciência e história
O Instituto Butantan foi fundado em 1901, tendo completado 120 anos em fevereiro. Criado pela urgência de combater um surto de peste bubônica que se espalhou pelo porto de Santos, à época, o laboratório teve como primeiro diretor o médico sanitarista Vital Brazil. Em sua equipe, ele contou com o trabalho do também médico Oswaldo Cruz e o surto na cidade do litoral paulista foi controlado.
Rapidamente, a experiência já acumulada por Vital Brazil em seus estudos sobre os venenos de cobras levou o instituto a se especializar na criação de soros antiofídicos. Mesmo obrigado cronicamente a lidar com baixos orçamentos, o Butantan tornou-se a grande referência mundial na criação pioneira destes antídotos.
Atualmente, a entidade, que foi mantida pública pela resistência da sociedade e dos seus trabalhadores, produz 13 tipos diferentes de soros, todos usando a tecnologia baseada em cavalos, de uma fazenda em Araçariguama, no interior do estado. São antídotos contra venenos de cobra, escorpião, aranhas, lagartas. Também são fabricados remédios para tratamento contra difteria, tétano, botulismo e raiva.
“Há um agente muito importante na produção de qualquer soro hiperimune: o cavalo”, explica o instituto.
Crédito: Divulgação Butatan
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