A pesquisadora da Unicamp Bárbara Vallejos apresentou dados sobre a precarização do trabalho bancário, em especial dos correspondentes bancários e do trabalho em home office
A precarização do trabalho atinge as mais diversas categorias do trabalho e o ramo financeiro não fica de fora desta realidade. Em debate virtual realizado com o coletivo bancários na luta do sindicato dos bancários de São Paulo e com dirigentes do Sindicato dos bancários de Santos de Santos e Região, no último dia 3 de maio, a pesquisadora Bárbara Vallejos* tratou de alguns aspectos da precarização do trabalho bancário, em especial dos correspondentes bancários e do trabalho em home office.
A propósito dos correspondentes bancários, tema de sua dissertação de mestrado defendida no ano de 2018 pelo Instituto de Economia da UNICAMP intitulada “Correspondentes Bancários e Terceirização: o subterrâneo das relações de trabalho no Setor Financeiro no Brasil” , trata-se de uma forma burlada de terceirização de atividade fim dos bancos que consistem em “parcerias estabelecidas entre as instituições financeiras (contratantes) e empresas do setor de comércio varejista, Correios, lotéricas, imobiliárias, etc. para a prestação de serviços financeiros”.
380 mil pontos de atendimento
Conforme explicou Bárbara, surgida sob a bandeira de levar o sistema financeiro para lugares distantes dos grandes centros urbanos os correspondentes bancários cresceram brutalmente, chegando a 380 mil pontos de atendimento, superando em 16 vezes o total de agências bancárias. Na prática, trata-se da mais aguda alteração das relações de trabalho no setor financeiro verificada nos últimos anos, a partir de uma profusão destes trabalhadores que chegam a ganhar 80% a menos do que um trabalhador bancário, além do baixo acesso a direitos e benefícios.
Trata-se, no fim das contas, do desemprego de trabalhadores bancários diretos, protegidos pela Convenção Coletiva de Trabalho Nacional dos Bancários, com emprego da explícita terceirização de atividade-fim.
A propósito do trabalho de home office, modalidade de trabalho que ganhou muito destaque dado o contexto da pandemia, Bárbara apresentou também diversos aspectos desta realidade que foi exposta pelo DIEESE por meio de Nota Técnica publicada no último dia 12 de abril.
Alto grau alto de adoecimento
No ano passado, no auge da primeira onda da COVID 19 metade da categoria bancária chegou a trabalhar de home office, tendo sido verificado alto grau alto de adoecimento, maiores e mais intensas jornadas de trabalho, sendo que em muitos casos o banco não se responsabilizou por nenhum equipamento de trabalho, além de outros problemas como o aumento de gastos a cargo do trabalhador em decorrência do trabalho em domicílio. Bárbara tratou a fundo destas questões que, em sua visão, deverão ser encaradas em breve pelo movimento sindical no que tange a necessidade de regulamentação.
O debate contou com ativa participação dos sindicalistas presentes, que trataram dos diversos aspectos levantados por Bárbara, bem como outros temas a exemplo da necessidade dos sindicatos dos bancários encamparem a bandeira da organização sindical dos correspondentes bancários, que via de regra estão desassistidos em termos sindicais.
O Observatório dos Trabalhadores Terceirizados (OTTS), por meio do Economista e gestor do portal Sammer Siman, participou deste debate que colocou em evidência diversas questões acerca da precarização do trabalho bancário e os desafios da luta sindical.
* Bárbara Vallejos é Doutoranda e Mestre em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da UNICAMP, docente e Coordenadora de Pós-Graduação da Escola Dieese de Ciências do Trabalho e Professora Convidada da FESP-SP
Veja também: Os bancários e o home office no contexto de pandemia
Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil
Fonte: com informaçõe do Observatório dos Trabalhadores Terceirizados (OTTS)