Professora da Unicamp, Raquel Stucchi ressalta que municípios devem fazer planejamento para garantir duas doses da vacina para cada pessoa. A vacinação contra o novo coronavírus começou segunda-feira (18), a partir das 17h, em alguns estados do país.
No total, estão sendo distribuídas cerca de 6 milhões de doses da vacina CoronaVac, domingo (17) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A quantidade aprovada até agora e que está sendo distribuída representa, no entanto, apenas 1,4% do necessário para imunizar toda a população: cerca de 420 milhões de doses.
Segundo Raquel Stucchi, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a quantidade de vacinas distribuídas aos estados deve durar três dias.
Ela ressalta que, antes de os municípios começarem a aplicar as vacinas, deve ser feito um planejamento com a quantidade disponível do medicamento de forma a garantir duas doses para cada pessoa.
“Se um município recebeu 4 mil doses, deve se programar para vacinar duas mil pessoas. Não podemos correr o risco de perder um montante grande de doses, porque intervalos maiores do que quatro semanas não são recomendados para a vacina do Butantan”, explica. Para a infectologista, não dá para contar que a produção de vacinas já está a pleno vapor.
Em São Paulo, o Instituto Butantan ainda tem outras 4 milhões de doses que esperam ser aprovadas pela Anvisa. Até março, serão 46 milhões de doses no total, contando com as 36 milhões que ainda não estão prontas, uma vez que a produção depende da chegada do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina Coronavac da China.
Já a entrega das vacinas da Universidade de Oxford, produzidas pela farmacêutica AstraZeneca, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), só deve ser disponibilizada em larga escala em março. O governo federal até tentou importar da Índia um lote com 2 milhões de doses da vacina britânica, mas até o momento não houve sucesso.
Falta de planejamento
Evaldo Stanislau de Araújo, infectologista do Hospital das Clínicas da USP e membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), ressalta que não é possível criar a “ilusão” de que o Brasil começou uma campanha de vacinação em massa contra a covid-19.
“O Brasil começou a vacinação por um grupo prioritário, que são os profissionais de saúde. E, mesmo entre os profissionais de saúde, não tem vacina para todos, estão sendo selecionados aqueles que efetivamente estão sendo mais expostos”, afirma Araújo.
Na perspectiva do infectologista, o Brasil está apenas “abrindo a porta” para desenvolver a campanha de vacinação. “É uma preocupação enorme que a gente tenha pouca vacina e que a gente fique à mercê do mercado externo nos fornecer o ingrediente farmacêutico ativo para que a gente possa efetivamente fabricar a vacina”, afirma Araújo em relação à dependência do IFA da China.
O infectologista concorda com a professora da Unicamp, Raquel Stucchi, que todo o quantitativo de doses produzidas até agora deve ser dividido em duas fases. Fazer o contrário, seria “negligente”, ressalta.
Até que a vacinação contemple toda a população, “nós vamos conviver com essa situação que ninguém desejava, mas que reflete certamente o planejamento ausente que foi feito por parte do Ministério da Saúde em relação às vacinas”, afirma Araújo.
De acordo com o Plano Estadual de Imunização de São Paulo, apresentado no ano passado, a expectativa era vacinar 9 milhões de pessoas no estado, entre idosos, profissionais da saúde e indígenas.
No entanto, o governo de João Doria vem informando mais recentemente que “a campanha de imunização contra a covid-19 em São Paulo será desenvolvida segundo a disponibilidade das remessas do órgão federal. À medida que o Ministério da Saúde viabilizar mais doses, as novas etapas do cronograma e públicos-alvo da campanha de vacinação contra a covid-19 serão divulgadas pelo Governo de São Paulo”, conforme informou o governo estadual em nota à imprensa.
Crédito: Rovena Rosa Agência Brasil
Fonte: Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Escrito por: Caroline Oliveira. Edição: Leandro Melito