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Saúde é um dos principais eixos da Campanha Salarial

23 de julho de 2009

Na Campanha Salarial, uma das principais lutas é pela saúde da categoria. Durante a última década milhares de bancários contraíram doenças ocupacionais como LER/DORT e psicológicas como a depressão, Síndrome do Pânico e outras. Em nossa região são centenas de casos de afastamento por incapacidade psicológica para o trabalho. As causas são a extrema pressão do banco, com a prática do assédio moral, que tortura os trabalhadores para que trabalhem como máquinas com o objetivo de obter lucros incessantes ao banqueiro, ou mesmo para que peçam demissão sem direito algum. Por isso, estão entre os eixos da minuta entregue à Fenaban: Prevenção às Doenças Ocupacionais, Política de Reabilitação do Bancário, Isonomia dos/as Trabalhadores/as Afastados, Metas Realistas discutidas com os Bancários/as e Política de Combate ao Assédio Moral. A responsabilidade é de todos. Vamos nos mobilizar para que nossa saúde seja respeitada!
 
O Assédio Moral e a Categoria Bancária
Entrevista com “Teca Baiana” – Psicóloga Social – PUC/SP 
 
“Faz-se necessário que a luta seja travada como uma luta de classe e não cidadã. O assédio moral se inscreve nas estratégias do capital para sua perpetuação e não simplesmente em processos de exclusão de cidadania.”
 
Informativo Bancário:
O que é assédio moral e por que só acontece com mais ênfase nesta época de globalização?
 
Teca Baiana: O assédio moral é uma doença cruel, pois a humilhação nem sempre é explícita, mas é concreta, há diversas formas de rebaixar. Do ponto de vista da Psicologia Social, o assédio não ocorre porque a trabalhadora ou trabalhador sofre de uma doença individual, de uma falha de caráter ou características psicológicas X ou Y. O capital organiza determinadas estratégias de atuação, que visam necessariamente impedir a classe trabalhadora de se unir para se organizar, de se reconhecer como indivíduos com direitos comuns, como classe. Estas estratégias rebatem diferentemente em sujeitos diferentes, com histórias de vida diferenciadas.
O capital em cada época histórica faz emergir as emoções que lhe interessam (como chefes autoritários) e cria situações concretíssimas (como o medo do desemprego) e se aproveita de outras (o momento de refluxo das representações de classe), para implantar suas políticas de dominação.
 
Informativo Bancário: O assédio moral pode provocar doenças?
Teca Baiana: A OMS(Organização Mundial de Saúde) considera uma pessoa saudável quando tem um completo bem estar biopsicofísico. A humilhação atinge a auto-estima das trabalhadoras e trabalhadores, mina suas emoções, faz com que ele ou ela se sinta indeciso(a), confuso(a) e inseguro(a).
As conseqüências para a saúde da trabalhadora e trabalhador são profundas, pois trabalhar se torna um pesadelo e daí surgem e se agravam problemas de saúde.
 
Informativo Bancário: Que tipo de problemas de saúde geram o assédio moral?
Teca Baiana: • Ocorre um aumento das doenças profissionais, como LER, intoxicação, etc.
• Compromete a identidade (que é medida de valor do trabalho na sociedade), dignidade, a auto-estima, provoca medo, angústia, depressão, sentimento de inferioridade, insegurança, fragilização, desejo e tentativas de suicídio.
• Provoca conseqüências na vida afetiva, social e no trabalho, pois desestabiliza a pessoa que, aos poucos, em alguns casos, não suporta a pressão, se sente culpada (o) e pede demissão.
• Irritabilidade (por qualquer motivo e com pessoas que nada têm a ver com os problemas: família, amigos).
• Queixas de dores generalizadas por todo o corpo
• Distúrbios do sono
• Medo exagerado
• Agravamento de dores pré-existentes
• Depressão
• Palpitações e tremores
• Choro fácil
• Aumento da pressão arterial
• Diminuição da libido
• Dores de cabeça
• Distúrbios digestivos, etc.
 
Informativo Bancário: Quais são as perspectivas para a categoria bancária?
Teca Baiana: Como na categoria bancária o trabalho é organizado majoritariamente em torno dos processos automativos, que tendem a dispensar força de trabalho e substituí-la por máquinas, essa categoria está mais sujeita ao fantasma da demissão, uma das questões que mais favorecem o advento do assédio moral, pois intimidam as trabalhadoras e trabalhadores com o medo do desemprego.
As saídas existem, e devem ser construídas necessariamente no coletivo. A luta sindical, apesar de esbarrar em limites corporativos, inerentes à sua própria natureza, pode ser travada até o limite, forçando conquistas e organizando a classe nesse processo. Faz-se necessário que a luta seja travada como uma luta de classe e não como uma luta cidadã. O assédio moral se inscreve nas estratégias do capital para sua perpetuação e não simplesmente em processos de exclusão de cidadania.
A resposta não está (em primeira instância) em fortalecer os (as) trabalhadores (as) um(a) a um(a) – apesar de não descartar a psicoterapia como uma das saídas-, mas em lutar para mudar as condições de trabalho dentro dos locais de trabalho, organizar as trabalhadoras e trabalhadores dentro do local de trabalho e não só mobilizá-los(as), fortalecer as representações de classe e criar mecanismos coletivos em que as trabalhadoras e trabalhadores se reconheçam como sujeitos com o mesmo interesse, que é o fim da opressão.
 
Informativo Bancário: Existe saída para a classe trabalhadora?
Teca Baiana: As trabalhadoras e trabalhadores têm em suas mãos a possibilidade de mudar sua própria condição. As trabalhadoras e trabalhadores produzem a riqueza do mundo, os patrões não podem prescindir do trabalho humano, pode substituí-lo por máquinas (trabalho morto), mas só até um determinado limite.
Por isso, necessitamos fortalecer nas trabalhadoras e trabalhadores a noção de que, como indivíduo particular, o capital pode substituí-lo (José pode ser demitido ou trocado por João ou Maria), mas como sujeito coletivo – bancários, metalúrgicos, estivadores – eles são imprescindíveis, pois eles realizam o trabalho vivo. Neste sentido é preciso travar as lutas pontuais de cada categoria, sem esquecer a ligação destas com a luta mais ampla pela construção do socialismo.
Pois, enquanto estivermos sob o jugo do sistema capitalista, que transforma o trabalho – que foi responsável pela nossa transformação de macacos em seres humanos e é a gênese da vida – em instrumento de morte, não haverá saídas definitivas para aqueles que vivem da venda da sua força de trabalho.
 
-Terezinha (Baiana) Martins dos Santos Souza é Psicóloga, Mestre e Doutoranda em Psicologia Social pela PUC/SP, participante do site: www.assediomoral.org e monitora do NEP – Núcleo de Educação Popular 13 de Maio.
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