A greve geral de sexta-feira, 28 de abril, entra para a história do Brasil pela conscientização, mobilização e adesão maciça, graças à união de sindicatos, igrejas, correntes políticas das mais diversas vertentes, trabalhadores urbanos e rurais, aposentados e estudantes em todo o país.
“De norte a sul do país os trabalhadores se deram conta do estrago que significa o desmonte de direitos e resolveram cruzar os braços. Afinal, não era dia de dar lucro para o patrão, mas de defender os direitos trabalhistas e a aposentadoria, por isso as ruas ficaram vazias e as pessoas em casa”, explica Edson Carneiro Índio, secretário-geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora.
Segundo estimativas das centrais sindicais foram entre 35 milhões e 40 milhões de pessoas envolvidas na greve, o que corresponde a um terço da população economicamente ativa do Brasil.
“Realizamos uma das mais significativas mobilizações da história brasileira, surpreendendo o governo e os grandes empresários. Para nós, da Intersindical, não foi surpresa, estava clara a disposição para a luta”, afirma Índio.
A parada estratégica que deixou as cidades vazias cumpriu com o objetivo de transmitir a mensagem dos trabalhadores na linguagem que só o grande capital é capaz de entender: o prejuízo econômico e financeiro da paralisação de um dia.
Milhões em prejuízo
Para se ter ideia de como a greve mexeu com o bolso dos patrões, basta escolher uma categoria que sempre tem os prejuízos calculados e divulgados pela mídia quando pára. Um dia de greve dos auditores da Receita Federal no Porto de Santos (SP), por exemplo, causa um prejuízo de R$ 100 milhões nas contas do governo.
E neste 28 de abril não foram só eles que pararam. Estivadores, transportadores, fiscais agropecuários, entre outros, também cruzaram os braços. A adesão total à greve também aconteceu nos portos do Rio de Janeiro (RJ) e de Vitória (ES). Outros pararam parcialmente, como em Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS).
Sem contar que todas as atividades econômicas do país, como comércio, serviços, indústrias ficaram às moscas. E o governo Temer ainda tem a cara de pau de usar a mídia para dizer que esperava por uma adesão maior das massas.
Ruas tomadas em todo o país
O povo foi sim às ruas, apesar do silêncio da grande mídia – que optou propositadamente por concentrar a cobertura nos incidentes, confrontos e desavisados que esperavam pelo transporte público ao longo do dia.
Em Pernambuco, 200 mil foram às ruas, em Minas Gerais foram 100 mil, mas a televisão não mostrou nada. Em São Paulo 70 mil pessoas enfrentaram o frio no Largo da Batata, mas a Globonews só transmitiu imagens de longe do ato, gastando horas de cobertura com lixeiras incendiadas e o aparato policial – e ignorando por completo a massa de trabalhadores que protestava contra as reformas de Michel Temer e seu Congresso de comparsas.
“Temos que ter claro que não podemos nos deixar pautar pela Rede Globo. Ela é inimiga do povo brasileiro. A pauta do Jornal Nacional não é a nossa pauta. Nossa pauta é a defesa de direitos, da democracia, da classe trabalhadora. A companheirada está de parabéns, rodoviários, metroviários, bancários, professores, servidores, portuários, trabalhadores da saúde, entre outros, e todos os que se juntaram à greve nacional”, discursou Índio no ato em São Paulo.
Senadores precisam ouvir a voz das ruas
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, ressaltou durante a passeata em São Paulo que, “após a maior greve dos últimos 30 anos no Brasil”, os senadores precisam ouvir “a voz das ruas” para reverter a reforma trabalhista. “Entre a aprovação na Câmara e o texto ir para o Senado nós paramos o Brasil”, avisou o principal dirigente da Frente Povo Sem Medo.
“A greve geral é vitoriosa! Vamos continuar na luta, no amor ou na dor vamos atropelar essa agenda que quer acabar com os direitos da classe trabalhadora e do povo brasileiro, isso é um crime de lesa pátria, contra o povo, contra o Brasil”, alertou Índio.
# Greve geral no Brasil: a volta da centralidade do trabalho
Crédito: Fabiano M. Couto
Fonte: Intersindical